O preço da arroba do boi deve subir no segundo semestre deste ano no país, mesmo com a mudança de cenário no mercado interno após a decisão do governo de zerar as tarifas de importação de carnes para tentar conter a inflação dos alimentos. E, com a reação do valor do boi gordo, em consequência do ciclo de baixa na oferta de animais, existe também a expectativa de que os pecuaristas retomem os investimentos.
Oswaldo Ribeiro Júnior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), afirma que, independentemente de crise econômica, os produtores já programaram seus investimentos. Segundo ele, os pecuaristas trabalham sempre com horizonte de longo prazo, em virtude, também, das características da atividade, que é de ciclo mais longo.
Para Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, as medidas do governo não levarão a grandes mudanças no cenário que já se desenhava para a pecuária em 2025. “A perspectiva de aumento do preço da arroba no segundo semestre permanece”, avalia.
Caso a projeção se concretize, a retenção de fêmeas deverá enxugar a oferta de animais para abate a partir da segunda metade do ano, elevando, com isso, a cotação do boi gordo. Os pecuaristas que estão com o caixa em melhores condições tendem a investir mais.
“E se você considerar que a retenção de fêmeas é um investimento, e é mesmo, então isso já está acontecendo. Em vez de vender a vaca para abate, eu seguro essa vaca para produzir bezerro. Isso é um investimento”, afirmou Torres.
Neste ano, as condições climáticas atrasaram o período de reprodução de bovinos, conhecido como estação de monta. As fêmeas que não ficaram prenhas estão sendo descartadas desde fevereiro, o que limita o aumento dos preços da arroba.
Passado o período de expansão da oferta, a tendência, diz Torres, é que a estratégia de retenção de fêmeas se intensifique. E, para manter essas vacas na produção de bezerros, os criadores terão que investir em nutrição e saúde animal.
Especialista em insumos pecuários, João Antônio Fagundes, o principal executivo do Grupo Raça Agro, ressalta que há desafios na cadeia de fornecimento, como a dificuldade na obtenção de algumas matérias-primas. Por outro lado, continua ele, a indústria também deve sentir os efeitos positivos da elevação do preço do boi.
“Apesar dos desafios, o cenário é favorável para o pecuarista voltar a investir em tecnificação da propriedade, formação de pasto após anos de seca e queimadas e em aceleração da engorda de animais com suplementação adequada. Em um ambiente de preços melhores, o pecuarista poderá voltar a ter margens mais saudáveis”, disse.
De acordo com Ary Rodrigues, executivo-chefe da Axia Agro, a nutrição dos animais representa de 45% a 50% dos gastos do pecuarista. Seca e queimadas afetaram diretamente as áreas de pastagens no ano passado, prejuízos que fizeram o produtor recorrer à suplementação nutricional para o gado.
A Axia, que pertence à gestora Pátria Investimentos, atua na distribuição de todos os tipos de insumos para a pecuária. No ano passado, 40% do volume de vendas da empresa teve correlação com problemas climáticos, segundo Rodrigues. A companhia faturou R$ 1,1 bilhão em 2024 e projeta crescer entre 15% e 20% neste ano.
O preço do boi gordo está abaixo do pico que se registrou no fim de novembro, mas subiu nos últimos 12 meses. Segundo o indicador da Datagro, a cotação da arroba em São Paulo está 31,8% acima do patamar de um ano atrás, tendo fechado a R$ 312,90 na quinta-feira (13/3).