O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a difícil missão de iniciar o processo de liberalização do mercado japonês para a carne bovina brasileira “in natura”. O chefe do Executivo vai levar o tema ao encontro com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, que acontece na quarta-feira, no Palácio Akasaka.
Lula encontra-se no Japão desde segunda-feira em visita de Estado e recebe várias homenagens da Casa Imperial e do Parlamento japoneses pelos 130 anos de relações diplomáticas entre os dois países.
A dificuldade ocorre pelo momento sensível do comércio mundial com o aumento das taxas de importação impostas pelos Estados Unidos. O Japão teme que a abertura do mercado de carne bovina para o Brasil afete as vendas dos Estados Unidos aos japoneses. Isso pode irritar o presidente Donald Trump, que defendeu a carne americana nos hambúrgueres comercializados no mercado japonês durante visita de Estado em 2019.
Pedido antigo
A abertura para as exportações brasileiras de carne bovina é um pleito defendido há pelo menos 20 anos, informou o ministro da Agricultura e da Pecuária, Carlos Fávaro, após encontro do presidente Lula com integrantes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), na manhã de terça-feira (noite de segunda-feira no horário de Brasília) no hotel da delegação brasileira em Tóquio. De acordo com o governo brasileiro, o Brasil é líder mundial de exportações de carne bovina, mas não consegue vender para o Japão, que importa US$ 4 bilhões por ano.
O primeiro passo para a abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira é a realização de missão sanitária do Japão em frigoríficos brasileiros. O ministro Fávaro espera que esse avanço seja oficializado no documento oficial que será assinado durante a visita de Lula ao Japão.
“A expectativa é que a missão de inspeção sanitária japonesa vá para o Brasil ainda neste ano. O país evoluiu muito nesses vinte anos principalmente na questão sanitária, superando desafios que eram exigências do Japão. O Brasil vai receber, no mês de maio, o status da Organização Mundial de Saúde Animal de país livre de febre aftosa sem vacinação, que era uma das exigências japonesas. Mas, independentemente disso, nós já temos cinco Estados com esse reconhecimento por parte do governo japonês, o que amplia o mercado de carne suína e possibilita o avanço para a habilitação e abertura do mercado de carne bovina. O presidente ouviu por parte dos empresários o quanto isso é importante para o Brasil, para a geração de emprego e para formar os preços da proteína animal para a nossa população brasileira”, afirmou o ministro.
De acordo com Fávaro, o presidente Lula fez um compromisso pessoal, de realizar empenho total para que isso se torne uma realidade. O ministro também lembrou que nos dois anos de governo do presidente Lula foram abertos 344 novos mercados para os produtos agropecuários brasileiros, um recorde absoluto em todos os tempos, mostrando que o Brasil atinge um patamar de segurança alimentar para o mundo, garantindo que em caso de qualquer crise alimentar e sanitária para o mundo o Brasil consegue suprir o mundo.
“Só como exemplo, a Ucrânia deixou de produzir 40 milhões de toneladas de soja nos últimos anos e o Brasil consegue suprimento para o país. A gripe aviária tomou conta de todos os continentes e o Brasil é um dos pouquíssimos países que não tem gripe aviária. Garantimos o suprimento de quase 40% de carne de frango consumida no mundo, com qualidade, com segurança sanitária e preços muito competitivos”, acrescentou Fávaro.
As restrições à entrada da carne bovina brasileira são negociadas há 22 anos e não avançam desde que o gabinete do então primeiro-ministro Junichiro Koizumi montou um escritório de crise, em 2001, por causa da doença da vaca louca que impactou as importações japonesas de alimentos. Uma fonte, que trabalhava nessa equipe, admitiu na época que o Brasil representava, de forma direta e indireta, 40% de todo o alimento importado pelo Japão. Isso acendeu um sinal de alerta para os riscos de ficar dependente de um único fornecedor. Coincidência ou não, a participação brasileira nas importações japonesas começou a perder espaço para outros países.
No setor de carne bovina, a brecha foi aproveitada pelos exportadores americanos, que contrataram uma grande agência de publicidade japonesa para impulsionar as vendas para o Japão. Alguns observadores também acreditam que o trabalho de Organizações Não Governamentais australianas contra a caça da baleia do Japão teria como objetivo principal impedir o consumo dessa proteína animal que concorre diretamente com a carne bovina australiana.