A região oeste da Bahia ultrapassou o noroeste de Minas Gerais e se tornou o maior polo de produção agrícola irrigada do Brasil. Foram quase 100 mil hectares incorporados aos sistemas de irrigação por pivô central em apenas dois anos, de acordo com um levantamento da Embrapa Milho e Sorgo.
A pesquisa apontou ainda que a área total irrigada no país cresceu quase 15% no período e passou dos 2,2 milhões de hectares irrigados por 33.846 pivôs centrais. Houve um incremento de 281,6 mil hectares e 3,8 mil novos equipamentos de irrigação. O ritmo de expansão é o maior da série histórica e pode ser explicado pelos desafios crescentes do clima.
O aumento médio anual entre 2022 e 2024 no país, de 140,8 mil hectares, é o maior já registrado na série histórica desde o ano de 1985, segundo a Embrapa. O impacto dos eventos climáticos extremos, como as estiagens prolongadas e ondas de calor, justifica em parte esse movimento, afirma Daniel Guimarães, da área de Agrometeorologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG). “Essas volatilidades inerentes à produção de sequeiro têm refletido na tendência de crescimento da agricultura irrigada no Brasil”, observa.
As áreas irrigadas do extremo oeste da Bahia aumentaram 42%, passando de 232,8 mil hectares em 2022 para 332,5 mil em outubro de 2024. Em todo o Estado são 404,4 mil hectares irrigados — 110 mil a mais do que há dois anos. As principais culturas irrigadas são soja, algodão, milho e café.
O noroeste mineiro registrou a segunda maior expansão de área no período, com mais 37,5 mil hectares irrigados. Com isso, a mesorregião chegou a 308,5 mil hectares com irrigação. Minas Gerais ainda é o Estado com maior área irrigada do país, com 636,9 mil hectares, principalmente de feião, trigo, milho, soja e hortifrútis, como alho e cebola. Na sequência do ranking aparecem Bahia, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A área irrigada de São Paulo ficou estável em 247 mil hectares. De acordo com a Embrapa, isso reflete as limitações de crescimento em função do uso e ocupação do solo, preço da terra e estrutura fundiária do Estado.
No Centro-Oeste, Goiás e Mato Grosso tiveram crescimentos superiores a 10% nos últimos dois anos, para 345,5 mil e 183 mil hectares, respectivamente. Em Mato Grosso do Sul, o incremento foi de 60% nesse período, a maior taxa estadual no cenário avaliado, passando de 39,9 mil hectares para 64,2 mil hectares irrigados por pivô central. Segundo a Embrapa, a variação é fruto de mudanças do sistema de produção da pecuária para a agricultura.
O extremo oeste baiano concentra 82% da irrigação do Estado. São Desidério (BA) é o município com maior área irrigada do país por pivôs centrais, com 91,6 mil hectares. No ranking, ainda aparece a vizinha Barreiras (BA), em quinto lugar, com 60,9 mil hectares. Em breve, a cidade deve ultrapassar Cristalina (GO), que tem 69,5 mil hectares. Paracatu (MG), com 88,8 mil hectares, e Unaí (MG), com 81,2 mil hectares, completam a lista.
Daniel Guimarães afirma que o crescimento no oeste baiano está relacionado às condições topográficas, às facilidades de implantação dos empreendimentos, ao uso das águas do Aquífero Urucuia e ao armazenamento da água de irrigação em tanques de geomembrana (lona).
Os dados foram obtidos com uso de imagens do satélite Sentinel 2A e 2B e do radar do Sentinel 1 e gráficos da plataforma Google Engine e comparados com levantamentos anteriores da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No estudo, a Embrapa reforça que o uso da irrigação favorece o aumento da produtividade por área, entre duas e três vezes em relação aos cultivos não irrigados. Também permite a estabilidade da produção, com possibilidade de produção na entressafra. A tecnologia ainda ajuda a reduzir a pressão para expansão e abertura de novas áreas.
Apesar do crescimento expressivo, a irrigação ainda é uma realidade para a minoria dos produtores brasileiros. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) diz que a área irrigada no país corresponde a 2,6% do que o mundo irriga.
A área total irrigada do Brasil é de 9,2 milhões de hectares — incluídos todos os sistemas de irrigação como o uso de gotejamento, inundação, aspersão convencional e os pivôs centrais — é menor que a área das lavouras irrigadas do Irã e Paquistão, três vezes menores que a dos Estados Unidos e oito vezes menor que as da China e Índia, diz Guimarães, da Embrapa.