Medo do abandono, mudanças repentinas de humor, impulsividade e dificuldade de controlar raiva. Essas são algumas das características do Transtorno de Personalidade Borderline, ou Transtorno de Personalidade Limítrofe, que atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP, explica que o Borderline é uma doença mental caracterizada por instabilidade emocional, dificuldades em relacionamentos interpessoais, além de impulsividade. “O transtorno é mais frequente em mulheres, com cerca de 75% dos casos diagnosticados no público feminino”, afirma à CNN.
O especialista explica que as causas para o desenvolvimento do Borderline são diversas, combinando fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos, como alterações cerebrais, adversidades e experiências traumáticas na infância, como abuso ou negligência.
Além disso, o transtorno pode coexistir com outras condições de saúde mental, como depressão e o transtorno por uso de substâncias. “É recomendado que caso o transtorno borderline seja precedido ou seguido de outro quadro psiquiátrico, ambos devem ser diagnosticados e tratados adequadamente”, ressalta Silva.
Sintomas do borderline
De acordo com Maria Cristina Barros Maciel Pellini, coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Paulista (Unip), a instabilidade é uma característica fortemente presente em pessoas com Transtorno de Borderline, fazendo com que o paciente tenha mudanças de humor abruptas e intensas, mudanças frequentes de interesses, valores e atitudes, além de mudar rapidamente a maneira que pensa e/ou se sente em relação a outra pessoa.
“Normalmente, as pessoas com Borderline temem ser rejeitadas e abandonadas e não toleram estarem sozinhas. Fazem esforços para evitar que isso aconteça e podem gerar crises, como tentativas suicidas, fazendo com que as outras pessoas a resgatem e voltem ao cuidado para com elas”, explica Pellini à CNN.
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 – Texto Revisado (DSM-5-TR), para que uma pessoa seja diagnosticada com Borderline, é preciso que, pelo menos, cinco dos seguintes sintomas sejam apresentados:
- Evitar abandono real ou imaginado;
- Relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
- Instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si;
- Intenções suicidas ou automutilação;
- Sentimento de vazio;
- Impulsividade em, pelo menos, duas áreas potencialmente autodestrutivas (por exemplo, sexo inseguro, compulsão alimentar ou dirigir de forma imprudente);
- Imaginação paranoide provisória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos;
- Instabilidade afetiva e reatividade de humor;
- Raiva intensa e dificuldade em controlá-la.
Borderline e bipolaridade: como diferenciar?
Muitas vezes, o Borderline é confundido com Transtorno Bipolar, já que ambas condições apresentam alterações no humor como sintoma. No entanto, são doenças diferentes.
“O Borderline é um transtorno de personalidade, e a Bipolaridade é um transtorno de humor”, afirma Silva. “O Borderline tem mudanças de humor que ocorrem rapidamente e em resposta a eventos interpessoais. Além disso, este transtorno está mais relacionado a problemas em relacionamentos pessoais e à autoimagem. Já na Bipolaridade, as mudanças de humor vão de um extremo ao outro, com episódios distintos de mania e euforia até depressão, que podem durar dias ou semanas”, completa.
Em outras palavras, a mudança de humor causada pelo Borderline é uma resposta a eventos estressantes, principalmente em relações interpessoais. Já na Bipolaridade, essa mudança acontece pela alternância de períodos em que a pessoa fica mais exaltada (mania), mais depressiva (hipomania) e períodos de normalidade, segundo Pellini.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do Borderline é feito por meio de uma avaliação cognitiva e emocional do paciente, que deve ser realizada por um profissional especializado em saúde mental, como psicólogo ou psiquiatra.
“Não há um exame específico para diagnosticar o TPB, mas os médicos, por vezes, solicitam exames fisiológicos para excluir outras doenças”, explica Pellini. Dessa forma, o diagnóstico é baseado na descrição do comportamento relatado pelo paciente e nas observações feitas por esses profissionais, levando em consideração os sintomas descritos no DSM-5-TR, citado anteriormente.
“É importante descartar outras condições que possam apresentar sintomas semelhantes”, reforça Silva.
Quais são as opções de tratamento para o transtorno de borderline?
O tratamento é feito com psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos para controlar os sintomas. “Não há tratamento medicamentoso específico. Para tratar o Borderline, temos a Terapia Comportamental Dialética e medicamentos para sintomas, como antidepressivos, estabilizadores de humor, ansiolíticos, antipsicóticos, entre outros”, afirma Silva.
O psiquiatra acrescenta, ainda, que as pessoas que convivem com pacientes de Borderline podem ajudar oferecendo apoio, sendo compreensivo, sem julgar, e encorajando a pessoa a buscar ajuda de psiquiatra.
“Evite críticas, discussões acaloradas ou minimizar os sentimentos da pessoa. Além disso, estabelecer limites claros e saudáveis pode ajudar na relação. Em caso de uma crise, ligue para um serviço de saúde de emergência como o SAMU [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]”, orienta.