Recentemente, pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos EUA, anunciaram um novo rastreamento de câncer de mama que, além de completamente indolor, leva cerca de um minuto para ser realizado. Tudo o que as pacientes precisam fazer é pressionar levemente a mama contra uma janela de imagem.
Ao contrário da mamografia tradicional, que requer a compressão dolorosa da mama entre duas placas de acrílico, no novo sistema, chamado de OneTouch-PAT, a paciente apenas encosta a mama em uma tela especial do equipamento, enquanto permanece em posição natural, em pé.
De acordo com o estudo, publicado na revista IEEE Transactions on Medical Imaging, o contato direto permite melhor qualidade de imagem e não depende da habilidade do operador para posicionar corretamente. A técnica combina imagens ultrassônicas tradicionais com imagens fotoacústicas.
Como se fossem duas “câmeras” diferentes fotografando uma mesma cena, a que usa ondas sonoras cria visualizações dos tecidos internos da mama, enquanto a que usa pulsos de laser aquece moléculas que, ao absorverem a luz, se expandem e criam ondas ultrassônicas para visualizar vasos e o fluxo sanguíneo.
Tridimensionais, as duas imagens — ultrassom e fotoacústica — se alinham perfeitamente e se sobrepõem no mesmo espaço. Isso é feito por um software especializado que entrega uma visualização com informações das duas técnicas. Com isso, o médico vê, ao mesmo tempo, a estrutura do tumor e sua vascularização.
A necessidade de um modelo de exame de mama mais simples e eficaz

O câncer de mama figura hoje entre as principais causas de morte feminina no mundo. A detecção precoce através de mamografias e ultrassonografias tem salvado milhares de vidas, mas os métodos atuais apresentam limitações significativas que comprometem sua eficácia diagnóstica.
Acessível e barata, a mamografia é imprecisa em mamas densas, causa dor e usa radiação. Já o ultrassom funciona melhor em tecidos densos, mas gera falsos positivos e depende da perícia do operador. Por fim, a ressonância magnética é eficaz, porém cara e pouco disponível.
Surge, então, a necessidade de um rastreamento de câncer de mama mais fácil e acessível para as mulheres do mundo inteiro. O novo OneTouch-PAT foi testado com 65 participantes do estudo, incluindo 61 pacientes com câncer de mama e quatro pessoas que não tinham câncer.
Os pesquisadores observaram que o sistema não só forneceu imagens 3D nítidas do tecido mamário das participantes, mas também ajudou a classificá-las em subtipos de câncer de mama que têm padrões comuns, como câncer de mama Luminal A, Luminal B e Triplo-Negativo.
O OneTouch-PAT também se mostrou competitivo com algumas tecnologias mais avançadas (e caras), como o sistema Koning Vera fundamentado em tomografia computadorizada sem compressão, que custa centenas de dólares, e o sistema Bexa, que utiliza elastografia de alta resolução e dura meia hora.
Próximas etapas para o desenvolvimento do OneTouch-PAT

Concluída a pesquisa, a análise estatística dos pacientes revelou que a intensidade fotoacústica regional e os pontos de ramificação vascular funcionam como indicadores eficazes de malignidade mamária. Os resultados promissores demonstram margem para aprimoramentos do diagnóstico e da classificação do câncer.
Em um comunicado de imprensa, o autor correspondente do estudo, professor Jun Xia, resume o estudo: “Nosso sistema, chamado OneTouch-PAT, combina imagens avançadas, automação e inteligência artificial, tudo isso ao mesmo tempo em que melhora o conforto do paciente”.
O novo sistema pode beneficiar, de forma especial, as mulheres com tecido mamário denso, que são frequentemente mais difíceis de diagnosticar, uma vez que tanto o ultrassom quanto a imagem fotoacústica são menos afetados pela densidade do tecido.
Entretanto, alerta Xia, a pesquisa ainda está em fase inicial e “mais trabalho é necessário antes que ele possa ser usado em ambientes clínicos”. Isso significa testes em populações mais amplas e também mais diversas, com diferentes idades, etnias e condições para confirmar o funcionamento pleno do equipamento.
Para o engenheiro biomédico, há também a necessidade de testes para distinguir entre câncer e lesões benignas, como cistos e fibroadenomas, para evitar falsos positivos. Finalmente, é necessário aprimorar a forma como o software analisa as imagens e aumentar a precisão da IA e dos algoritmos.