O Ozempic, medicamento da farmacêutica Novo Nordisk, é conhecido pelos seus efeitos no emagrecimento. Apesar de seu uso ser indicado para o tratamento do diabetes tipo 2, o remédio é usado off label — ou seja, fora das indicações da bula — para a perda de peso. Isso acontece devido à semaglutida, principal componente presente no medicamento.
Porém, apesar de a semaglutida ser aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento da obesidade, o uso do Ozempic para fins estéticos sem orientação e acompanhamento médico pode trazer riscos à saúde. Além disso, a rápida perda de peso proporcionada pela medicação traz consequências, como a flacidez e a “cabeça de Ozempic“, termo que viralizou nas redes sociais recentemente.
A “cabeça de Ozempic” faz referência a um suposto efeito colateral do uso do medicamento, como a desproporcionalidade da cabeça em relação ao resto do corpo. Ricardo Barroso, endocrinologista e diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo), explica que isso está associado à perda de massa muscular causada pelo rápido emagrecimento.
“Essa questão da desproporcionalidade entre rosto e corpo acontece pela perda de massa muscular, causada pelo rápido emagrecimento. Isso dá a sensação do resto do corpo estar mais magro do que a cabeça. Então, tudo tem a ver com a falta de massa muscular e de estrutura da composição corporal”, afirma o endocrinologista à CNN.
Além disso, a rápida perda de peso também pode causar flacidez no rosto, condição apelidada de “rosto de Ozempic“.
“Isso não acontece com todas as pessoas, mas acontece, principalmente, com quem tem uma perda de peso mais acelerada. Essas pessoas não conseguem ter uma boa ingestão de proteína, o que causa a perda de massa muscular e a flacidez, porque também há a perda de colágeno“, explica Barroso.
No entanto, segundo o especialista, essa flacidez pode acontecer também em outras regiões do corpo, como abdômen, flancos (parte lateral das costas), coxas e glúteos.
“Algumas pessoas têm muita dificuldade de fazer atividade física quando estão usando o Ozempic, porque têm falta de disposição e de energia. Esse sedentarismo somado à baixa ingestão de proteínas leva a perda proporcionalmente maior de massa magra, o que leva a um aspecto maior de flacidez”, afirma Barroso.
Um estudo feito com o Ozempic publicado em 2021 mostrou que, após 68 semanas de medicação, 86,4% dos participantes perderam 5% ou mais do peso corporal. Apesar de isso estar relacionado ao emagrecimento, a perda de peso corporal também pode diminuir a massa muscular e a densidade óssea, podendo levar à sarcopenia (perda gradual de massa muscular, força e função).
Outros possíveis efeitos colaterais do uso de Ozempic
A semaglutida é um componente análogo do hormônio GLP-1 e atua diretamente na secreção de insulina pelo pâncreas, ajudando a regular o nível de glicemia. Por isso, ela é indicada para o tratamento de diabetes tipo 2.
No caso do emagrecimento, a molécula ajuda a retardar o esvaziamento gástrico, promovendo uma sensação de saciedade mais prolongada. Além disso, o análogo do GLP-1 também atua no sistema nervoso central, nas vias de regulação do apetite.
Assim como toda medicação, os remédios à base de semaglutida podem trazer efeitos colaterais e riscos à saúde, principalmente se usados indevidamente, ou seja, sem prescrição e acompanhamento médico.
Entre os efeitos colaterais possíveis do uso do Ozempic, segundo especialistas ouvidos pela CNN, estão:
- Náuseas;
- Inapetência excessiva;
- Diarreia;
- Vômitos;
- Mal-estar;
- Dor de cabeça;
- Dificuldade para se alimentar;
- Desidratação (devido aos vômitos e diarreia);
- Pedra na vesícula, devido à rápida perda de peso.
Posicionamento da Novo Nordisk sobre o uso off-label e efeitos adversos do Ozempic
Em nota enviada à CNN, a Novo Nordisk diz que não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label de seus medicamentos, ou seja, em desacordo com a bula, e tampouco a automedicação. A empresa afirma que efeitos adversos são consequências diretas do uso do medicamento e não são necessariamente graves ou ruins. Segundo a Novo, distúrbios gastrointestinais, como a náusea, foram os efeitos adversos mais frequentes relatados, sendo a maioria de intensidade leve e não levando à interrupção do tratamento.
A companhia diz ainda que o paciente deve buscar acompanhamento médico para minimizar os efeitos colaterais. Comer porções menores, parar quando se sentir satisfeito, evitar frituras e comidas gordurosas, manter-se hidratado e evitar consumo de álcool podem minimizar essas reações, diz a empresa.