Recentemente, o chef e apresentador Edu Guedes, 51, revelou estar enfrentando um câncer de pâncreas, tipo de tumor marcado pela alta agressividade e pelos casos com evolução rápida. A notícia reacendeu o debate sobre as características da doença e se ela é realmente mais violenta do que outros tumores. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 10 mil novos casos da doença foram diagnosticados apenas no período de um ano, em 2022.
Edu Guedes apresenta, até o momento, evolução surpreendentemente positiva. No entanto, de acordo com especialistas ouvidos pela CNN, esta não é a realidade da maior parte dos pacientes.
O câncer de pâncreas está entre os tumores mais agressivos do aparelho digestivo. Essa característica não se deve apenas ao seu comportamento biológico invasivo, mas principalmente à dificuldade em detectar a doença em seus estágios iniciais, o que compromete diretamente as chances de cura.Play Video
“O grande problema do câncer de pâncreas é que ele costuma ser silencioso no início. Quando aparecem os sintomas, muitas vezes o tumor já se encontra em estágio avançado e com metástases, o que reduz significativamente as opções de tratamento”, explica o cirurgião gastrointestinal Lucas Nacif, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).
O oncologista Mauro Donadio, da Oncoclínicas, complementa: “Apenas de 10% a 15% dos casos são diagnosticados precocemente. Ainda assim, quando identificada a tempo, a doença pode ser tratada com cirurgia com potencial curativo. Em tumores muito iniciais, cerca de 25% a 30% dos pacientes podem atingir a cura.”
O que torna o câncer de pâncreas tão perigoso?
Segundo os médicos, a agressividade do câncer pancreático é explicada por uma combinação de fatores. Sua progressão costuma ser rápida, ele tende a invadir órgãos próximos como o fígado e o peritônio, e também pode se espalhar por via linfática ou sanguínea. “Mesmo quando diagnosticado em estágios iniciais, pode ser necessário o uso de quimioterapia antes ou após a cirurgia para melhorar as chances de controle da doença”, ressalta Donadio.
Ainda, há diferentes tipos de tumores pancreáticos. O mais comum e também o mais agressivo é o adenocarcinoma ductal pancreático, que se desenvolve nas células dos ductos do pâncreas. “Ele tem um comportamento bastante invasivo”, reforça Nacif.
Tumores neuroendócrinos bem diferenciados são menos comuns e tendem a ser menos agressivos. Há ainda lesões pré-malignas, como a neoplasia mucinosa papilar intraductal (IPMN), que precisam de acompanhamento rigoroso.
Diagnóstico precoce é fundamental
O diagnóstico precoce é fundamental. Quando o tumor é detectado em fase inicial, a chance de sucesso no tratamento pode aumentar em até 90%, expressa Lucas Nacif. No entanto, ainda não existem exames de rastreamento eficazes disponíveis para a população em geral, como há para câncer de mama ou de colo do útero.
“A biópsia líquida é uma técnica promissora, que permite detectar fragmentos genéticos do tumor em amostras de sangue, mas ainda não está amplamente disponível na prática clínica”, explica Donadio.
Em pacientes com histórico familiar da doença ou síndromes genéticas associadas, exames de imagem como ressonância magnética e ultrassonografia endoscópica podem ser indicados preventivamente. E, mesmo sem métodos eficazes de rastreio, sinais como perda de peso inexplicada, dor abdominal persistente, icterícia (pele e olhos amarelados), náuseas e perda de apetite não devem ser ignorados.
O fator determinante para um desfecho mais ou menos favorável é o estágio em que ele é diagnosticado. Quanto mais cedo for descoberto, maiores as chances de um tratamento bem-sucedido.