O transtorno de Borderline atinge de 1 a 3% da população mundial, de acordo com pesquisas. A condição é caracterizada pelo medo intenso do abandono, explosões de raiva e variações bruscas de humor. A subjetividade desses sintomas pode dificultar o diagnóstico.
“É uma doença tão prevalente quanto transtorno bipolar, quanto esquizofrenia, e tem menos recursos para a gente estudar, fazer pesquisa. Nos hospitais psiquiátricos, 15 a 20% dos pacientes atendidos têm esse diagnóstico, e nas internações psiquiátricas, até 30% dos pacientes”, diz Eduardo Martinho, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele é um dos entrevistados do “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” deste sábado (28), ao lado de Erlei Sassi, também psiquiatra do IPq.
Em conversa com Dr. Roberto Kalil, os especialistas explicam que, geralmente, os pacientes com Borderline possuem outros transtornos associados e, por isso, é fundamental diferenciar e priorizar o tratamento individual, levando em consideração as características de cada caso.
“90% dos pacientes com transtorno Borderline fecham critério para outros diagnósticos. Então, a gente faz diagnóstico de ansiedade, depressão. Mas se você pegar um paciente que tem Borderline em um fundo ansioso e ficar medicando esse paciente, ele não vai melhorar”, explica Martinho.
De acordo com Sassi, casos com outros transtornos ansiosos são os mais graves, podendo levar ao suicídio em até 5% dos pacientes.
O que é borderline?
O Transtorno de Personalidade Borderline ou Transtorno de Personalidade Limítrofe é uma doença mental caracterizada por instabilidade emocional, dificuldades em relacionamentos interpessoais e impulsividade. As causas para o desenvolvimento do transtorno são diversas, combinando fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos, como alterações cerebrais, adversidades e experiências traumáticas na infância, como abuso ou negligência.
“Nós chamamos de transtorno de personalidade porque, em uma depressão ou transtorno bipolar, por exemplo, a pessoa está indo bem, de repente ela tem uma queda depressiva. No Transtorno de Personalidade Borderline, o que vemos de sintoma mais característico é a dificuldade de a pessoa lidar com suas emoções”, explica Martinho.
“Muitas vezes, frente a conflitos interpessoais, [a pessoa] se fecha nas emoções dela, absorve, não lida com aquilo, ou ela tem uma desregulação, uma explosão, uma dificuldade de lidar com as relações”, completa.
No Brasil, a doença é mais prevalente em mulheres, segundo os especialistas. “A cada três pacientes, dois são mulheres”, estima Sassi. Mas ele explica que, nos homens, há uma característica particular. “Os homens se colocam em situações mais perigosas. Os atos, quando são violentos, são muito mais intensos”.
Segundo Martinho, a impulsividade nos homens com Borderline está mais dirigida ao uso de substâncias. “Então, eles podem dirigir e se colocar em situação de alto risco, podem ter explosões de comportamento mais intensas”, afirma.
Outro grupo que tem particularidades é o de adolescentes. “Na adolescência, a gente vê um grupo de pacientes que tem muito mais sintomas, e muito mais graves, com autolesões, automutilação”, explica o psiquiatra.
Por isso, fazer o diagnóstico precoce, na adolescência, é fundamental. Segundo os especialistas, a intervenção precoce aumenta as chances de melhora. “Nós conseguimos, por exemplo, no nosso ambulatório [no Hospital das Clínicas], em seis meses, ter remissão sintomática de 80% dos pacientes. Nos adultos também há um prognóstico favorável, mas o tratamento é um pouco mais demorado. Então, quanto mais cedo a intervenção, melhores as chances”, afirma Martinho.
E Borderline tem cura? “Nós falamos em recuperação funcional e remissão dos sintomas”, diz o psiquiatra. O grande desafio é fazer com que o paciente consiga se relacionar.
Os psiquiatras afirmam que cerca de 90% dos pacientes conseguem chegar à remissão dos sintomas, mas fazem isso se isolando socialmente, o que não é uma solução. “Entre 40 e 60% dos pacientes conseguem recuperação clínica, de fato”, diz Martinho.