O petróleo tem se mostrado essencial nos últimos cem anos, em que pese os impactos ambientais decorrentes de seu uso. Apesar da diversificação das fontes, como o Mar do Norte, o Pré-Sal brasileiro e o shale gas, o Oriente Médio continua concentrando alguns dos principais fornecedores internacionais, tornando o suprimento mundial de óleo suscetível às questões geopolíticas da região.
Conflitos no Oriente Médio têm gerado altas expressivas no preço do petróleo desde meados do século passado. A Crise de Suez, em 1956, causou prejuízos ao comércio marítimo, mas com impacto limitado. Já o embargo árabe de 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, elevou significativamente o preço do barril e desencadeou a primeira grande crise energética global. Isso se repetiria com a Revolução Iraniana e a Guerra Irã-Iraque no fim dos anos 1970, levando a novas elevações do preço do petróleo e agravando a inflação e a recessão mundial.
Nos anos seguintes, episódios como a invasão do Kuwait, em 1990, a Segunda Guerra do Golfo, em 2003, além de outros eventos e confrontos, mantiveram o mercado em alerta, com oscilações expressivas nos preços. A escalada da guerra entre Israel e o Irã, somada ao risco de fechamento do Estreito de Ormuz, elevou o preço do Brent de US$ 61 (01/06) para mais de US$ 77 na última sexta-feira. Com o agravamento da guerra, cotações mais altas são esperadas.Play Video
Diante dessa escalada, o governo brasileiro já planeja elevar de 27% para 30% a quantidade de etanol anidro na gasolina, reduzindo a importação do combustível e procurando manter estável os preços praticados no Brasil.
Impactos para a COP30
Com os preços pressionados e as incertezas geopolíticas em alta, cresce a preocupação com a disposição dos países para negociações climáticas substanciais na COP30. Em um cenário de guerras – lembrando que a esperada paz entre Rússia e Ucrânia continua a ser almejada, mas sem sucesso – é de se questionar se os governos teriam disposição para negociar escopos de redução de emissões e metas de financiamento climático.
Contrariamente ao que se possa imaginar, surge a possibilidade de que a transição energética seja acelerada entre os participantes da COP30. É uma oportunidade que se apresenta para a chancelaria brasileira, tendo em vista que o Brasil é o país que lidera a transição energética, tanto para movimentação de veículos quanto para a geração de energia elétrica.
Embora desafiadora, essa pode ser uma janela estratégica para reforçar o papel da transição energética como prioridade geopolítica. Não se trata de um processo simples ou rápido, mas o atual contexto geopolítico oferece uma oportunidade única para acelerar a transição.
A alternativa, ainda que parcial, encontrada pelo Brasil, pode ser uma sinalização do caminho a ser trilhado por outros países. O etanol, sujeito a variações sazonais geralmente previsíveis, permanece imune a choques geopolíticos. A tecnologia flex garante sua aplicação em qualquer proporção na mistura com a gasolina. O biodiesel segue caminho similar, embora haja restrições tecnológicas que dificultam uma ampliação substancial de seu uso.
Além dos biocombustíveis, há opções de veículos elétricos que podem utilizar fontes renováveis como a energia solar, solar ou biomassa. Mesmo considerando uma transição mais avançada, o Brasil já se destaca em pesquisas para a produção de hidrogênio verde a partir do etanol.
Na COP30, o Brasil terá a chance não somente de exibir seus avanços, mas de liderar, com legitimidade, o debate internacional por soluções climáticas mais ambiciosas — mesmo diante de um cenário global marcado por conflitos e incertezas. A chancelaria brasileira pode encontrar aí uma chance concreta de projetar internacionalmente o protagonismo do Brasil na transição energética.