Uma operação da Polícia Civil de São Paulo contra uma ONG que reivindicava direitos carcerários cumpriu 12 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão contra advogados e líderes da organização.
De acordo com as investigações, a ONG Pacto Social & Carcerário S.P, localizada em São Bernardo do Campo, foi criada a partir de uma demanda da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e atuava como uma instituição de fachada. A ONG teria a função de organizar protestos e falsas denúncias sobre torturas supostamente sofridas por detentos membros da facção.
Entre os presos estão Luciene Neves, presidente da ONG, e Geraldo Salles, vice-presidente.
Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau e Ribeirão Preto, no estado paulista, e em Londrina (PR).
A investigação teve início em 2021, depois que uma visitante tentou entrar em uma penitenciária com drogas e cartões de memória. O conteúdo dos cartões foi analisado e nele constavam informações sobre setores da facção, como “gravatas”, formado por advogados, e “saúde”, que, conforme a investigação, funciona como um “plano de saúde” para presidiários que são membros da alta cúpula da facção.Play Video
Em novembro de 2023, os policiais apreenderam manuscritos que estavam em posse de um presidiário. Neles, segundo a polícia, havia um comunicado sobre a organização de manifestações por todo o país, a sugestão de que presos simulassem torturas, orientações sobre locais para a instalação de faixas sobre os direitos dos presos e até a sugestão para que três agentes públicos fossem mortos. Os investigadores afirmam que os nomes e funções dos agentes não constavam no informe.
Procedimentos estéticos para os presos
A investigação apontou que advogados ligados ao setor dos “gravatas” eram responsáveis por cooptar profissionais de saúde como médicos e dentistas para atendimento dos líderes presos.
Segundo a polícia, os profissionais da saúde eram selecionados pelos advogados e prestavam os serviços, inclusive com intervenções cirúrgicas e estéticas, como clareamento dentário, por exemplo.
Os profissionais recebiam valores acima dos praticados pelo mercado para estes serviços. Cabia então aos advogados a confecção dos pedidos à Justiça para a realização dos procedimentos como se fossem com finalidade de saúde ao invés de estética.
Entre os chefes da organização criminosa atendidos pelo “setor da saúde” estão criminosos como Paulinho Neblina, Andinho e Gegê do Mangue (morto em 2018).
Os profissionais de saúde envolvidos nos casos foram ouvidos pela polícia, que diz não ter encontrado irregularidades na atuação dos profissionais. Para a os investigadores, muitos não sabiam que estavam colaborando com integrantes do PCC.