O fundador da gestora Verde, Luis Stuhlberger, já definiu os títulos incentivados como uma jabuticaba brasileira. O volume desses papéis e a sedução do investidor foram um baque para os multimercados e fundos de ações – até para os nomes estrelados. E não dá mais para escapar deles.
A Verde acaba de estruturar uma nova gestora, focada em fundos imobiliários (FIIs) e fundos do agronegócio (Fiagros), ambas categorias isentas de imposto de renda para o investidor. Quem vai ficar à frente da Verde Agro & Imobiliário é Gustavo Campos, que foi um dos fundadores da Riza Asset depois de uma carreira no banco Bocom BBM, agora como gestor de portfólio, e Marcos Ferreira, que também fez carreira no BBM, Itaú BBA e HSI, e será head de crédito.
A Verde Agro & Imobiliário terá participação acionária dos executivos, controlada pela Verde. Sua gestão é segregada, mas a nova firma vai usufruir de estruturas como jurídico, tecnologia e compliance. No comitê de crédito da nova firma, Luiz Parreiras, o sócio da Verde que é gestor da estratégia Multimercado e Previdência, e Pedro Fukui, chefe de operações da Verde, terão poder de veto.
“A gente sempre discutiu internamente que outros negócios e áreas a gente podia explorar, numa perspectiva de criar uma proposta de valor diferenciada para o cliente, ter as pessoas e processo de investimento adequados para isso”, diz Parreiras ao Pipeline. “Eu já conhecia o Gustavo, que estava saindo da Riza, e começamos a falar em fevereiro, para construir o business plan.”
Ordem invertida
Nesse plano de negócios, a gestora começaria com um Fiagro – mas o chacoalhão nesse mercado acabou invertendo a ordem. A casa deve lançar primeiro um fundo imobiliário de papel, um fundo de tijolo e então um fundo agro, com a expectativa de encerrar 2025 com algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão em ativos sob gestão.
Até 2027, a Verde Agro & Imobiliário quer saltar para cerca de R$ 4,5 bilhões em AUM. Nesse período, a equipe deve ir de cerca de 10 pessoas no primeiro ano para 14 ou 15 ao final de três anos.
“Vamos olhar para todos os setores, com foco em montar operações com lastro imobiliário ou agro para companhias de capital fechado com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 1 bilhão. Vemos muita oportunidade nesse ‘mid yield’ e, se a originação é nossa, a relação de retorno é melhor”, diz Campos. Essa estruturação vai ser para os fundos e não para distribuição, complementa.
A firma nasce não só quando o mercado de gestoras está passando por uma consolidação, mas num momento em que os fundos incentivados ligados ao mercado imobiliário e ao agronegócio também passaram por fortes correções e seguem pressionados no ciclo de alta de juros. “Os fundos imobiliários e os Fiagros viram um movimento das cotas que não foi 100% racional, há fundos bons e fundos ruins sofrendo. A grande diferença é saber operar a análise de risco e crédito nesses segmentos, para que as garantias funcionem e para que uma mudança de juros, por exemplo, não afete tanto o negócio”, considera Ferreira.
Os sócios avaliam que as mudanças regulatórias desde o ano passado corrigiram exageros e distorções para os papéis incentivados – o que ainda não aconteceu nos títulos ligados à infraestrutura, que dispararam no ano. A Verde já avaliou a entrada em infraestrutura, um segmento em que já investiu no passado, assim como sua acionista Lumina, mas entende que hoje tem muito capital atrás de pouco ativo interessante e não encontrou a pessoa ideal para tocar uma operação nessa linha ainda.
“A debênture de infraestrutura sim é uma mega jabuticaba, virou de longe a maior de todas e acredito que em algum momento vai ter uma mudança na estrutura de incentivos disponível”, diz Parreiras. “Nas LCIs e LCAs, que já chegaram a uma distorção perniciosa, o governo já mexeu, apertou prazo, apertou CRI e CRA, e não é desprovido de lógica que se tenha incentivo no Brasil para que as companhias que não teriam acesso ao mercado de capitais passarem a ter”, avalia, comparando com o mercado americano, onde a estrutura de REITs no mercado imobiliário também tem um benefício fiscal.
Futuro dos fiagros
Campos acredita que o mercado de Fiagros tem potencial para atingir o tamanho do mercado de fundos imobiliários. A expectativa da nova gestora é ter o primeiro fundo rodando entre o final do primeiro e início do segundo trimestre do ano que vem.
“Não estamos montando um negócio porque o produto está vendendo ou porque é um mercado grande, como fizeram algumas gestoras. A tese é combinar capacidade de originação e estruturação com a capacidade de análise de crédito e gestão de risco para entregar um retorno ajustado ao risco muito melhor do que tem hoje no resto da indústria”, reforça Parreiras. A estruturação e análise de risco não estão subordinadas uma a outra, mas ambas ao comitê.