Os preços das commodities agrícolas devem ficar estáveis na safra 2025/26, sem solavancos como os ocorridos na temporada 2023/24, o que pode conferir um nível maior de previsibilidade aos produtores de grãos brasileiros. O cenário deve ser parecido com o do ciclo encerrado agora, comenta Sílvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Componentes externos, como o tarifaço dos Estados Unidos, e a possibilidade de ocorrência do fenômeno climático La Niña, que tende a reduzir as chuvas no Sul do país, são pontos de atenção, diz o dirigente.
“O cenário é de manutenção de preços. Isso significa que serão preços históricos na média”, afirmou a jornalistas nos bastidores de evento da Conab nesta semana. Na visão de Porto, os preços vão ficar abaixo dos picos registrados na pandemia, mas sem quedas bruscas.
“Não dá para imaginar que nós vamos ter de novo soja acima de R$ 200 ou a saca de milho acima de R$ 100. Isso nós não vamos ter”, opinou.
“Temos um nível de estabilidade que, ao pensar em sistema de produção, dá um nível de previsibilidade maior e que se compensa também ao olhar o impacto nas rações animais, nas carnes e, por consequência, o preço final ao consumidor, olhando principalmente para o mercado interno”, completou.
Ele vê um possível beneficiamento do setor produtivo com o tarifaço de Trump e melhor desempenho nas exportações. “O Brasil acaba se posicionando bem, tende até a se beneficiar desse processo, ao contrário do que imaginaram quando foi imposto isso”, completou.
Comida no prato
No mercado interno, o único alerta momentâneo é em relação ao feijão carioca, que pode ter sobressaltos de preços na safra 2025/26, mas nada capaz de influenciar na inflação do país, disse Porto.
“Está havendo uma pressão de preços muito significativa e há análises de que talvez nós tenhamos alguma surpresa de uma retomada de preços em um patamar um pouco superior do feijão”, pontuou. “Se manter a projeção da safra, eu diria que vai ter estabilidade, mas o feijão é sempre uma caixinha de surpresa”, considerou.
A Conab estima uma colheita praticamente igual na safra 2025/26 para a leguminosa, de 3 milhões de toneladas, com consumo mantido em 2,8 milhões de toneladas e estoque de passagem levemente mais alto.
Mais Sobre Feijão
A tendência é que os produtores sejam mais cautelosos. No Centro-Sul, para a primeira safra, a estatal espera queda na área plantada, por conta da situação atual de cotações em baixa. “Esta retração da área tende a forçar recuperação nos preços, permitindo ligeiro aumento ou estabilidade nas intenções de plantio de segunda e terceira safras”, diz o documento sobre as perspectivas da Conab.
Os preços do feijão ao consumidor caíram durante um longo período, diz a Conab. Atualmente, as redes varejistas operam com estoques mais enxutos e forte seletividade, o que pode interromper, mesmo que ligeiramente, a trajetória de queda de preços. “O feijão mantém quadro de oferta elástica e decisões táticas”, afirma a companhia.
Arroz
No caso do arroz, a Conab projeta área 6% menor e produção com queda de 11%, para 11,5 milhões de toneladas, por conta do excedente mundial atual e desvalorização do cereal. Mesmo assim, Porto não vê reação nos preços no curto prazo.
“Vai ajudar no equilíbrio dos preços do ano que vem, mas a mudança em relação a preço é em, no mínimo, dois anos, não é o cenário imediato. Tem disponibilidade, a indústria está muito abastecida, o cenário de exportação tem limite”, avaliou.
Segundo ele, haverá queda de área plantada, mas limitada. “Alguns falam em 30%, eu não acredito nisso. Se for 10% já será uma surpresa”, explicou.
Porto lembrou que o Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, está com disponibilidade de água para o cultivo de arroz, o que favorece o plantio. Segundo ele, a migração de áreas para soja ou outras culturas também é limitado.
“O produtor também tem uma limitação de fazer essa mudança, não é um processo simples”, apontou. “Essas questões fazem com que nós tenhamos uma tendência de queda, mas não tão acentuada, a questão vai ser a produtividade”, destacou.
A possibilidade de ocorrência do fenômeno La Niña pode favorecer os arrozais gaúchos, com alta incidência de sol, luminosidade e água disponível.
O clima é um elemento de preocupação constante, lembrou Porto. Mais do que a previsão de chuvas, o aumento da temperatura é o ponto de atenção, disse o diretor.
“O que mais nos preocupa mesmo é a questão do aumento da temperatura, que tem se mostrado de uma forma mais estrutural já. Isso realmente impacta sobre a produtividade, impacta em relação à redução do ciclo produtivo, acelera o processo de metabolismo da planta, faz com que haja mais evapotranspiração”, avaliou.