Dois segmentos do agro brasileiro que permaneceram na lista de produtos que sofrerão a sobretaxa de 50% nas exportações aos EUA, pescados e carne bovina se movimentam para tentar reduzir os impactos da tarifa no curto prazo ou até mesmo entrar na lista de exceções do governo americano.
Com o novo prazo para entrada em vigor das tarifas, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) estima ser possível embarcar ao menos 400 toneladas de peixes aos EUA até 6 de agosto. As cargas embarcadas nesse período serão taxadas após 90 dias, a partir de outubro, com tempo para chegar aos portos americanos.
No início do mês, a estimativa era que 1,5 mil toneladas de pescados ficariam represadas em contêineres, sobretudo em portos do Nordeste. Parte desse volume foi redirecionado a outros mercados e o restante, algo abaixo de 500 toneladas, ficará no Brasil, disse Eduardo Lobo, presidente da entidade ao Valor.
“As cargas que estavam com embarques suspensos, o empresariado vai correr e tentar fazer embarque de tudo que for possível até dia 6 de agosto. O setor ganhou 6 dias úteis para tentar escoar uma parte da produção. Isso é bom, mas é um grão de areia no oceano porque olhamos para frente”, disse.
A medida deve ajudar a diminuir os impactos do tarifaço no setor, mas está longe de ser a solução. As indústrias aguardam aval do governo à criação de uma linha de crédito de R$ 900 milhões para capital de giro e a autorização para resgate de cerca de R$ 100 milhões de crédito tributários acumulados. As duas ações poderiam garantir fluxo financeiro até o cenário se estabilizar dentro do “razoável”.
A preocupação está com a manutenção de 4,5 mil empregos na indústria e de cerca de 20 mil pescadores artesanais que fornecem pescados para essas empresas.
Lobo não acredita em isenção total para os pescados nacionais, mas vê possibilidade de negociação entre os governos para equilibrar a alíquota em índices semelhantes aos aplicados a peixes e frutos do mar de países da América Central e Caribe. Sem isso, disse o executivo, o setor perde a competitividade no mercado internacional. Os EUA representam 70% das exportações, estimadas em US$ 600 milhões para 2025.
A “coisa razoável”, avaliou Lobo, é a negociação entre os governos para que a tarifa seja equilibrada. A perda de competitividade nos EUA é ainda mais grave porque não há mercados alternativos relevantes para o pescado brasileiro. Isso porque a Europa, que poderia ser uma opção para os embarques do setor, mantém embargo aos pescados brasileiros desde 2017.
Os exportadores de carne bovina, por seu lado, ainda apostam na possibilidade de isenção. Fontes do segmento disseram ao Valor que importadores dos EUA afirmaram que vão tentar inserir a proteína na lista de produtos isentos da tarifa de 50%.
Negociação
Os importadores relataram a empresários brasileiros que estão em diálogo contínuo com o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), além de manter a articulação com comissões do Congresso americano. Mesmo assim, os compradores admitiram que os “pontos de influência” são reduzidos, pois a decisão final sobre isentar ou não as importações de carne bovina caberá à Casa Branca.
Outra estratégia adotada pelos importadores é atuar na mídia americana para explicar a relevância dos negócios com o Brasil diante da baixa oferta de bovinos para abate nos EUA atualmente.
A avaliação dos frigoríficos brasileiros é que os Estados Unidos são um cliente de difícil substituição, por conta das especificidades dos cortes enviados para lá (recortes magros do dianteiro para fabricação de hambúrgueres) e o preço pago pelo produto. A carne bovina foi um dos produtos que ficou fora da lista de exceções dos EUA. Somadas às alíquotas atuais, a tarifa extracota chegará a 76,4% e vai inviabilizar novos negócios.