A Certified Humane, certificadora internacional em bem-estar animal, lançou na última quarta-feira (21/5) a primeira norma de bem-estar animal do País voltada à produção de tilápias. O conteúdo da norma abrange quesitos como alimentação adequada, densidade e qualidade da água, biosseguridade, transporte e insensibilização no momento do abate, estabelecendo diretrizes para um manejo responsável em todas as fases produtivas até o abate.
De acordo com Luiz Mazzon, diretor da Certified Humane na América Latina e Ásia, a norma é fruto de um esforço colaborativo para adaptar os mais rigorosos padrões internacionais à realidade da produção tilápias no mundo. “O objetivo com o novo referencial é oferecer uma diretriz prática e aplicável, que permita aos produtores evoluírem em bem-estar animal e também se posicionarem melhor em mercados que valorizam práticas sustentáveis e responsáveis”, afirma.
Na avaliação do médico veterinário Daniel Santiago Rucinque, que atua como auditor de aquicultura da Certified Humane na América Latina, a norma também vai contribuir para aumentar a empatia de produtores e consumidores com os peixes.
“Antes de 2000 acreditava-se que os peixes não sentiam dor, que possuíam apenas reflexos, mas hoje em dia já se sabe que são animais sensíveis à dor. Neste sentido, a ciência do bem-estar vem quebrar esse paradigma à medida que pensa no estado físico e mental do animal e na sua relação com o ambiente em que vive”, explica.
O interesse na criação de uma norma para a produção de tilápias se deve ao tamanho do mercado brasileiro. No ano passado, a produção alcançou 662,23 mil toneladas, segundo dados do Anuário 2025 da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), registrando aumento de 14,36% em relação ao ano anterior, o que consolida a espécie como líder na piscicultura nacional com 68,36% do volume total de peixes cultivados.
“Os abates superam o de todas as outras cadeias produtivas, com mais de 662 milhões de tilápias abatidas no ano, ou seja, 1,8 milhão por dia”, calcula Rucinque.
Por esse motivo, o veterinário destaca a necessidade de uma norma com parâmetros éticos e sustentáveis para a cadeia produtiva. A norma prevê dentro dos quesitos de alimentação que os peixes sejam livres de fome e desnutrição, tenham acesso a uma dieta de alta qualidade que seja adequada à sua espécie e permita a manutenção da sua saúde plena. A ração deve ainda ser distribuída de forma que os peixes possam comer sem competição indevida.
Quando ao meio em que vivem, recomenda-se que infraestrutura onde os peixes são cultivados seja desenhada para protegê-los do medo, da angústia e do desconforto físico ou fisiológico, da aflição e de lesões, e que permita a manifestação de comportamentos naturais. Este ambiente também deve ser propício à manutenção da boa saúde e proteger os peixes contra dor, lesões e doenças, sendo que a qualidade da água deve ser monitorada com frequência.
A norma prevê também que os sistemas de transporte sejam projetados e operados para garantir que os peixes não sofram aflição ou desconforto desnecessários, e que no momento de abate os peixes sejam insensibilizados e mortos humanitariamente, sem qualquer aflição ou desconforto desnecessário.
“Produtores de qualquer tamanho podem seguir a nova norma de produção e obter a certificação de respeito ao bem-estar animal, agregando valor à sua produção”, conclui o professor Leonardo José Gil Barcellos, da Universidade de Passo Fundo (UPF), especializado em biopatologia e ecotoxicologia aquática, que participou da construção do novo referencial.