O preço do tomate para o consumidor foi um dos que mais subiu entre os alimentos no mês de março, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a segunda maior alta neste grupo de produtos: 9,85%. No acumulado do ano, o fruto aumentouu 13,21%, mostra o IPCA, indicador oficial de inflação. Nos últimos 12 meses encerrados em março, os brasileiros desembolsaram 22,24% a mais para levar o produto para casa.
Por que o preço do tomate subiu? A explicação começa no campo. João Paulo Deleo, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), destaca os efeitos do clima sobre as plantações. Em janeiro, as temperaturas elevadas aceleraram a maturação, aumentando a oferta e levando à redução do preço. O mesmo não se repetiu em março, causando o efeito contrário.
“É um alimento muito sensível ao calor. Sempre que está frio e esquenta, ele matura rapidamente. Aí ficam menos tomates nas pencas para abastecer o consumidor mais para frente. E como boa parte foi colhida no início do ano, tivemos menos quantidade disponível agora”, explica.
Willians Bini, meteorologista e Chief Climate Officer (COO) da FieldPRO, acrescenta que, apesar do enfraquecimento do El Niño, indicando a transição para a La Niña, o campo foi afetado pelo fenômeno.
“Durante o verão, o que acaba influenciando a questão do preço são as altas temperaturas e as chuvas. Mas por que a chuva? Não apenas pelo excesso, mas, sim, a chuva que prejudica o processo de colheita. Considerando duas condições sazonais, isso já tem uma variação de preço. E o que aconteceu em 2024 foi que essas duas condições climáticas (temperatura e chuva) foram intensificadas pela condição do El Niño “, conta.
O que esperar dos próximos meses?
Abril não começou muito diferente de março. De acordo com o Cepea, entre os dias 1º e 5 , a caixa de 20 quilos do tomate salada 3A foi de R$ 162 (+30%) no atacado de São Paulo; R$ 164 (+31,2%) em Belo Horizonte; R$ 209 (+45,3%) em Campinas (SP); e R$ 172 (+62,7%) no Rio de Janeiro.
João Paulo Deleo, do Cepea, avalia que o preço deve cair, à medida que a colheita avançar, mas esse movimento deve ser mais lento do que o inicialmente esperado. O motivo é a presença nas lavouras da mosca-branca, que traz riscos para as plantações de inverno.
“Já estamos vendo uma queda, mas ela não deve ocorrer drasticamente ainda nesse início como a gente acreditava. Um dos motivos é que as regiões que vão iniciar a safra agora estão com um problema de produtividade por causa da mosca-branca, uma praga que no ano passado já afetou muito a produtividade”, finaliza.
A mosca-branca é um dos insetos mais temidos por agricultores, por roubar os nutrientes da planta em que se hospeda. É listada em 8º lugar dentre as 83 pragas de maior risco fitossanitário para o Brasil pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Nas lavouras de tomate, pode transmitir outros dois vírus, aumentando o prejuízo: begomovirus e o crinivirus.
Comentários sobre este post