Uma espécie de margarida-amarela – Calea phyllolepis –, nativa dos campos da região Sul do Brasil e com risco de extinção, foi encontrada novamente em Florianópolis, capital de Santa Catarina, após 50 anos. O trabalho envolveu profissionais dos herbários da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O último registro da planta de hábito arbustivo e pétalas amarelas era de 17 de fevereiro de 1975, conta o biólogo Dr. Vinícius Resende Bueno à Globo Rural. Durante o doutorado em botânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele se tornou especialista no gênero Calea e fez a revisão completa de todas as coletas envolvendo a espécie, que é bastante comum no Estado, mas raríssima em Santa Catarina.
“Descobri que em Santa Catarina havia apenas duas coletas, uma em Praia Grande e outra em Florianópolis, em 1975. Cheguei até a duvidar dessa ocorrência, porque era esperado terem outros registros durante cinco décadas, mas não aconteceu nenhum”.
Como tudo aconteceu?
Em 2024, durante consulta ao iNaturalist, site onde qualquer pessoa pode compartilhar fotografias sobre a biodiversidade, Vinícius encontrou um registro fotográfico da espécie e fez contatos para que uma nova coleta fosse realizada, mas não foi possível.
Então, em 2025, após outra pessoa fotografar a mesma margarida-amarela e incluir no catálogo da plataforma digital, o biólogo enviou a informação ao herbário da UFSC, e profissionais foram ao local para registrar a planta.
“Eu pensava que poderia ser um registro errado (o de 1975) ou que ela estivesse extinta pelo avanço da cidade, porque a pressão imobiliária sempre é uma ameaça, mas dessa vez deu certo e conseguimos localizá-la”, diz.
A margarida identificada em Florianópolis tem como principais características o hábito arbustivo, tamanho médio entre 1 e 1,5 metro, folhas ovadas, brácteas (estruturas de proteção) com estrias bem marcadas e flores de pétalas amarelas. A espécie mais próxima é encontrada apenas em Minas Gerais.
Conforme o biólogo, a expectativa, após a descoberta da margarida-amarela na Fazenda Experimental da Ressacada, espaço que serve para ensino, pesquisa e extensão da UFSC, é a elaboração de um projeto para tentar manter a espécie viva e presente em Florianópolis.
“O importante mesmo seria fazer um trabalho com a comunidade ressaltando a importância de conservar aquela área e, junto à prefeitura, ter a preservação dessa área e das adjacências, pois é o registro conhecido mais ao norte da espécie. Porém, devido à pressão imobiliária e o crescimento da cidade, a preservação de campos naturais estão sempre ameaçados”, finaliza.
Em uma publicação nas redes sociais, o herbário da UFSC informou que fotos da coleta da planta estarão disponíveis em breve no catálogo virtual da instituição para consulta.