O novo Plano Safra, para o ciclo agrícola 2025/26, ter aumento nas taxas de juros da maioria das linhas de crédito rural. A avaliação é de Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do banco Santander. “Diria que, em linhas gerais, que qualquer um pode tomar, deve haver aumento de taxa sim. Aumento de até 1,5%”, afirmou o executivo, em conversa com jornalistas no primeiro dia da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).
Segundo Aguiar, que afirmou ter participado de reuniões sobre o tema, na última semana, em Brasília (DF), a elevação dos juros deve atingir principalmente os programas voltados para médios e grandes produtores. Microcrédito ou Pronaf, voltado à agricultura familiar, tendem a sofrer menor impacto.
A elevação dos juros, ainda que moderada, tem relação direta com o atual cenário macroeconômico e com o orçamento público. “O aumento dos juros melhora o orçamento do governo. Porque quanto mais [alta a taxa], é menos equalização”, explicou Aguiar.
Para o executivo, o maior desafio do crédito rural hoje é justamente o nível elevado da taxa de juros. Com a Selic ainda em patamar alto, o ambiente não é considerado ideal para novos endividamentos no campo. “Não acho que é o momento, com a Selic que estamos, para se endividar. É hora de ficar bonzinho e olhar como vou diminuir meu endividamento”, avaliou.
Aguiar destacou que o setor vive uma “ressaca” de endividamento, em parte causada por um descompasso entre os custos de produção e a renda dos produtores. “Apesar de uma pequena queda nos custos, não voltamos ao patamar pré-pandemia. E começaram a vencer as parcelas dos financiamentos. O juro que era de 2, 5% chega hoje a 15%”, disse.
Na visão de Aguiar, o cenário deve seguir desafiador por mais algumas safras. “Acredito que essa ressaca demore mais umas duas ou três safras boas”, disse. Apesar disso, ele reconhece que a temporada atual teve resultado positivo, o que pode ajudar parte dos produtores a atravessar o momento.
A dificuldade de pagamento tem resultado em um aumento de pedidos de recuperação judicial no setor. “Vemos muitos pedidos de recuperação judicial. Criou-se uma indústria, um vício, e é muito ruim para o setor”, afirmou.
Outro ponto de pressão sobre os recursos do crédito rural é o Proagro, programa que cobre perdas climáticas, e que deve registrar novo rombo este ano, segundo Aguiar, devido aos eventos extremos no Rio Grande do Sul. “É uma conta que o governo paga e que sai do Plano Safra no fim do dia”, explicou. Segundo ele, há pedidos para que o prêmio seja 20% superior. “Como, se essa já é a margem [dos bancos e seguradoras]?”