A diarreia é considerada uma das principais causas de morte entre crianças com menos de 5 anos, sobretudo em países de baixa e média renda.
Sua causa está diretamente relacionada a fatores externos, pronunciados por marcadores sociais de vulnerabilidade, como por exemplo a falta de acesso ao saneamento básico, má qualidade da água, desnutrição.
Além disso, outro fator deve contribuir significativamente para o agravamento do risco de doenças diarreicas agudas: mudanças climáticas. É o que revela estudo publicado pela revista científica Environmental Research, que chama a atenção para a iminente crise sanitária que deve afetar principalmente o Sul e Sudeste asiático.
Mortes por diarreia na infância x mudanças climáticas
Conduzida por cientistas da Universidade Flinders, na Austrália, a pesquisa reúne dados de mais de 3 milhões de crianças em oito países da região. As evidências mostram como temperaturas excessivas e períodos incomuns de estiagem, cenários resultantes do aquecimento global, terão impacto determinante sobre os casos de diarreia em escala mundial.
Os indicadores demonstram que oscilações de temperatura entre 30 °C e 40 °C podem elevar o risco de diarreia em 39%; por outro lado, períodos de seca durante estações de chuva aumentam a probabilidade em 29%.
“Nossos resultados enfatizam a necessidade de políticas de saúde pública resilientes ao clima que integrem os determinantes sociais e ambientais da diarreia. Intervenções direcionadas — incluindo melhoria da educação materna, infraestrutura de água e saneamento e gestão de recursos em domicílios densamente povoados — são necessárias para mitigar o risco de diarreia em regiões vulneráveis sob condições climáticas em mudança”, alertam os autores do estudo.
Políticas públicas salvam vidas
Soluções básicas para gestões públicas, como a garantia de acesso à água potável, podem diminuir o risco de mortes por diarreia em até 52%, enquanto a implementação de sistemas sanitários resultaria na redução de 24% dos óbitos. “Cerca de 88% das mortes por diarreia estão relacionadas à água potável insegura e causas relacionadas(…) A pobreza aumenta o risco de diarreia ao limitar o acesso a alimentos nutritivos, água limpa e cuidados de saúde, ao mesmo tempo que promove ambientes propícios à proliferação de patógenos diarreicos”, reflete o documento.
Outras medidas podem ajudar a mitigar os números de mortalidade infantil associada a quadros de diarreia aguda, alerta o material. Diante deste desafio, os especialistas enfatizam que ações de adaptação às mudanças climáticas e sistemas de saúde pública serão essenciais para enfrentar o cenário:
“Governos e formuladores de políticas devem priorizar: ( i ) expandir o acesso à educação materna, particularmente por meio da integração com programas de saúde materno-infantil; ( ii ) fortalecer a infraestrutura de água, saneamento e higiene (WASH), com foco no planejamento sensível ao clima; e ( iii ) abordar as condições de vida superlotadas por meio de políticas de habitação e infraestrutura.”