O ator e diretor de Hollywood Robert Redford morreu nesta terça-feira (16). A informação foi confirmada pelo seu assessor Cindi Berger. Ele tinha 89 anos.
Conhecido por papéis principais em “Butch Cassidy” (1969), “Todos os Homens do Presidente” (1976) e “Proposta Indecente” (1993), Redford também dirigiu filmes premiados como “Gente Como a Gente” (1980), que lhe rendeu o Oscar, e “Nada é Para Sempre” (1992).
A paixão pelo cinema de Redford o levou à criação do Sundance Institute, uma organização sem fins lucrativos que apoia o cinema e o teatro independentes e é conhecida por seu Festival de Cinema de Sundance.
O astro de Hollywood também foi um ambientalista dedicado, mudando-se para as montanhas de Utah em 1961 e liderando esforços para preservar a paisagem natural do estado e do oeste americano.
As últimas aparições de Redford foram em “Our Souls at Night” (2017), filme da Netflix que estrelou ao lado de Jane Fone , “O Velho e a Arma” (2018), que ele disse que seria seu último – embora tenha dito que não consideraria se aposentar; e faz uma breve aparição em “Vingadores: Ultimato” (2019).
“Para mim, aposentadoria significa parar ou desistir de algo. Existe uma vida para levar, por que não vivê-la o máximo que puder, enquanto puder?”, disse à CBS Sunday Morning em 2018.
Em outubro de 2020, Redford expressou a sua preocupação com a falta de foco nas alterações climáticas no meio dos incêndios florestais devastadores no oeste dos Estados Unidos, em um artigo de opinião que escreveu para a CNN.
Naquele mesmo mês, o filho de Redford, de 58 anos, morreu de câncer. David James Redford – o terceiro de quatro filhos de Robert Redford e da ex-esposa Lola Van Wagenen – seguiu os passos do pai como ativista, cineasta e filantropo.
Um jovem inquieto
Nascido em Santa Monica, Califórnia, perto de Los Angeles, em 1936, o pai de Redford trabalhou como leiteiro e contador, mudando-se mais tarde com a família para uma casa maior nas proximidades de Van Nuys.
“Eu não o via muito”, lembrou Redford sobre seu pai em um programa em 2005. Como sua família não tinha dinheiro para pagar uma babá, Redford passou horas na seção infantil da biblioteca local, onde ficou fascinado por livros sobre mitologia grega e romana. No entanto, Redford não era um aluno exemplar.
“Eu não tinha paciência… não estava inspirado”, lembrou Redford. “Foi mais interessante para mim brincar e me aventurar além dos parâmetros em que cresci.”
Atraído pelas artes e pelos esportes – e por uma vida fora da extensa Los Angeles – Redford ganhou uma bolsa para jogar beisebol na Universidade do Colorado em Boulder em 1955. Nesse mesmo ano, sua mãe morreu.
“Ela era muito jovem, não tinha nem 40 anos.” Redford disse que sua mãe “sempre apoiou muito [minha carreira]” – mais do que seu pai.
“Meu pai atingiu a maioridade durante a Depressão e tinha medo de correr riscos… então ele queria o caminho reto e estreito para mim, no qual eu simplesmente não deveria seguir. Minha mãe, não importa o que eu fizesse, ela sempre perdoava e apoiava e sentia que eu poderia fazer qualquer coisa. “Quando saí e fui para o Colorado e ela morreu, percebi que nunca tive a chance de agradecê-la”, afirmou.
Redford logo começou a beber, perdeu a bolsa e acabou sendo convidado a deixar a universidade. Ele trabalhou para a Standard Oil Company e economizou para continuar os estudos de arte na Europa.
“Vivi precariamente, mas tudo bem. Eu queria essa aventura. Queria a experiência de ver como eram outras culturas”, disse sobre o tempo na Europa.
Nasce uma estrela
Quando retornou aos Estados Unidos, Redford começou a estudar teatro na Academia Americana de Artes Dramáticas, em Nova York.
Tímido e fechado, ele disse que não se encaixava com os outros estudantes de teatro que estavam ansiosos para mostrar suas habilidades de atuação. Depois de uma apresentação na frente dea classe com um colega que terminou em frustração e desastre, disse que seu professor o puxou de lado e o encorajou a continuar atuando.
Em 1959, Redford se formou na academia e conseguiu seu primeiro papel como ator em um episódio de “Perry Mason”. A carreira de ator foi “subindo a partir daí”, disse ele. A grande chance veio em 1963, quando estrelou “Descalço no Parque”, de Neil Simon, na Broadway – um papel que mais tarde repetiria na tela grande com Jane Fonda. Nessa época, Redford se casou com Lola Van Wagenen e constituiu família. Seu primeiro filho, Scott, morreu de síndrome de morte súbita infantil poucos meses após seu nascimento em 1959. Shauna nasceu em 1960, David em 1962 e Amy em 1970.
À medida que sua carreira de ator estava decolando, Redford e sua família se mudaram para Utah em 1961, onde comprou dois acres de terra por apenas US$ 500 e construiu ele mesmo uma cabana.
“Descobri o quão importante a natureza era na minha vida e queria estar onde a natureza fosse extrema e onde pensasse que poderia ser eterna”, disse ele à CNN.
Redford ganhou fama como protagonista em 1969, quando contracenou com Paul Newman – já uma grande estrela – em “Butch Cassidy and the Sundance Kid”. O faroeste sobre dois bandidos ganhou quatro Oscars.
O astro disse que “estará para sempre em dívida” com Newman, a quem ele credita por ajudá-lo a conseguir o papel. Os dois atores tiveram uma ótima química na tela, tornaram-se amigos de longa data e se reuniram em “The Sting” em 1973, que ganhou o Oscar de Melhor Filme.
Um protagonista relutante
Redford estrelou filmes de sucesso ao longo da década de 1970: “Mais Forte que a Vingança”; “Nosso Amor de Ontem”, coestrelado por Barbra Streisand; “O Grande Gatsby”; e com Dustin Hoffman em “Todos os Homens do Presidente”.
Juntando-se ao diretor Sydney Pollack de “Mais Forte que a Vingança”, Redford lutou com o estúdio para que o filme fosse feito do jeito que ele queria – um precursor de sua carreira como diretor e de seu apoio ao cinema independente.
“Foi uma batalha desde o início. Eles [o estúdio] disseram… ‘Você tem US$ 4 milhões, coloque-os no banco em Salt Lake City, você pode filmar onde quiser, mas é isso. Se ultrapassar, sai da sua pele'”, disse ao “Inside The Actor’s Studio” à época.
Foi lançado mais de três anos depois de ter sido feito porque, segundo o ator, o chefe de vendas do estúdio achou o filme “tão incomum” que não encontraria público.
“A coisa triste contra a qual você tem que trabalhar, como cineasta, são as opiniões sobre o que funciona ou não. Filmes de esportes não funcionam, filmes políticos não funcionam, filmes sobre a imprensa não funcionam – então fiz três deles.”
Redford estreou na direção em 1980 com “Gente como a Grente”, um drama sobre uma família suburbana infeliz que lhe rendeu o Oscar de Melhor Filme e outro de Melhor Diretor.
Ele continuou estrelando filmes de sucesso como “The Natural” (1984), que explorou sua paixão pelo beisebol, e Uma Proposta Indecente” (1993), que o juntou a Demi Moore. Mais tarde, ele dirigiu “Nada é Para Sempre” (1993), que ganhou três Oscars, “Quiz Show: A Verdade dos Bastidores” (1994) e “O Encantador de Cavalos” (1998), no qual também estrelou.
Redford foi frequentemente escalado para o papel do protagonista romântico em filmes como “Entre Dois Amores (1985), mas nem sempre se sentiu confortável com o rótulo de “galã” e temia isso.
“Eu não me via da mesma forma que os outros me viam e estava me sentindo meio preso porque não conseguia sair da caixa de… protagonista bonito. Foi muito lisonjeiro, mas parecia restritivo… então demorou muitos anos para se livrar disso”, disse.
Um impacto duradouro
A paixão de Redford pelo meio ambiente e pelo cinema independente se fundiu quando ele fundou o Sundance Institute em 1981. A organização sem fins lucrativos apoia “assumir riscos e novas vozes no cinema americano”, bem como o teatro, e o resort Sundance de Redford, em um desfiladeiro acima de Provo, Utah, hospeda oficinas anuais para dramaturgos e roteiristas.
Todos os anos, o instituto de Redford realiza o Festival de Cinema de Sundance em Utah – a maior mostra anual de filmes independentes nos Estados Unidos. Muitos jovens cineastas tiveram sua grande chance em Sundance, incluindo Steven Soderbergh com “Sex, Lies, and Videotape” em 1989, Quentin Tarantino com “Reservoir Dogs” em 1992 e Ryan Coogler com “Fruitvale Station” de 2013.
O impacto vitalício de Redford na indústria cinematográfica foi reconhecido em 2002 com um Oscar honorário. Nos seus últimos anos, Redford nunca perdeu a paixão por contar histórias através do cinema e permaneceu um defensor declarado das causas ambientais. Ele frequentemente hesitava quando questionado sobre se aposentar.
“Quero aproveitar ao máximo o que me foi dado”, disse Redford a Christiane Amanpour da CNN em 2015. “Você continua se esforçando, tenta coisas novas e isso é revigorante”.