Adoção de medidas imediatistas e insuficientes, assim como a falta de consenso políticos entre membros do governo, são os obstáculos que impedem que pacote fiscal seja satisfatório, segundo o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, em entrevista ao WW.
O pacote fiscal anunciado pelo governo federal no final de novembro não caiu no gosto do mercado. Para o economista, no pior dos casos, o anúncio teria sido neutro. Ele reforça que algumas medidas apresentadas no pacote fiscal foram na direção certa, mas não seriam o bastante para estabilizar a dívida e aponta para uma eventual necessidade de novo ajuste fiscal até 2027.
O economista defende que ainda falta clareza nesse sentido e que, caso o presidente Lula busque a reeleição em 2026, precisará endereçar a questão com eficiência.
“O problema macroeconômico que temos é toda a incerteza em relação ao fiscal e a falta de consenso sobre o que fazer”, disse o economista-chefe do BTG, indicando que o ajuste pode seguir por dois caminhos: aumento de receita ou, preferencialmente, controle de despesa.
Mansueto aponta que o caminho para resolver a economia não é promover cortes de gastos imediatistas, mas sim encontrar medidas para estabilizar o crescimento da dívida pública.
A gestão Lula recebeu do ex-presidente Jair Bolsonaro uma dívida de valor equivalente a 72% do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todas as riquezas de um país. Mansueto aponta estimativas de que, ao final deste mandato, o rombo possa ficar entre 85% e 86% do PIB.
“Quanto antes fizer o ajuste, menor vai ser o custo lá na frente. Se adiar muito o ajuste e chegar no fim do governo com a dívida elevadíssima, vai ter que ter um ajuste fiscal forte em 2027”, concluiu Mansueto.
Segundo ele, a agenda do governo em reduzir benefícios tributários e isenções também vai no caminho correto.
“Reduzir todos os regimes especiais têm apoio de todo mundo que estuda gastos públicos. Temos um problema macro, e resolvê-lo passa por controlar as despesas obrigatórias para os próximos anos”, afirmou.
Para que o governo siga no caminho acertado, Mansueto espera que não haja gastos sendo tirados do orçamento, o que, do seu ponto de vista, fragilizaria as contas públicas e a credibilidade do governo.
O problema é que “não vemos apoio político [do Congresso] para seguir nessa agenda”, segundo Mansueto.
Segundo o especialista, a falta de consenso entre o Congresso e o governo sobre medidas fiscais gera incertezas no cenário econômico.
A divergência entre o discurso do ministro Fernando Haddad e outros membros do governo, além dos ataques ao Banco Central, foram citados como fatores que contribuem para um ambiente de incerteza.
“Eles têm que se entender, porque, na verdade, se não se entender, se não chegar em um consenso, não adianta a gente ficar culpando o Banco Central”, afirmou o economista, ressaltando que a maior incerteza atual é fiscal, e que o Banco Central sozinho não resolverá todos os problemas econômicos do país.
Para Mansueto, está claro que o mercado financeiro não joga contra o governo federal.
“Um cenário de juros baixos e economia crescendo é bom para todo mundo, o mercado não é contra o governo.”
Nos últimos dias, o câmbio brasileiro seguiu se deteriorando firmemente, com o dólar sendo negociado acima de R$ 6.
Alas do governo falam em um ataque especulativo por parte dos agentes econômicos. Mas o ex-Tesouro defende que o movimento que está acontecendo é de proteção por parte dos investidores diante das incertezas com cenário fiscal.
“Como será a evolução do gasto público? O buraco vai diminuir ou não? Dada a incerteza, o mercado se protege. Há algumas semanas se esperava que o governo fosse cumprir com seu dever e vinha se apostando que o dólar fosse ficar barato. A expectativa não se realizou, e pessoas tem que desmontar posições. Não é especulação, é proteção”, enfatizou.