Com a Indicação de Procedência da Carne de Onça de Curitiba, o Brasil atingiu em maio deste ano 153 produtos com selo de indicação geográfica (IGs) concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), sendo 25 desde janeiro de 2024.
A carne de onça é um prato típico da culinária curitibana servido por bares e restaurantes. É feito com carne bovina crua, picada e temperada, servida sobre um pedaço de broa. O prato teria ganho esse nome em 1940, nos bastidores de um time de futebol paranaense. Um dos jogadores disse que a carne servida a eles era tão bruta que “nem onça comeria”.
A concessão da IG garante que o prato seja produzido e vendido exclusivamente em Curitiba, protegendo a sua origem e a receita tradicional, além de ajudar a valorizar a gastronomia curitibana e atrair turistas.
Apesar do avanço dos últimos anos, o país ainda está na adolescência desse movimento de valorização de determinado produto que tem suas raízes na Europa, onde passa de 3.500 IGs. Só a Itália tem mais de 300.
Uma estimativa do Sebrae, que incentiva a criação das IGs como ferramenta tecnológica de promoção dos pequenos negócios, diz que, após a obtenção do selo, processo que demanda muita organização dos produtores, tempo e uniformização dos processos, os produtos são valorizados em até 300%.
Para debater o crescimento e desafios desse mercado, na última semana de maio, de 28 a 31, representantes de 52 IGs estiveram reunidos em Gramado, no Rio Grande do Sul, na oitava edição do evento Connection Terroirs do Brasil, organizado pela empresa Rossi & Zorzanello, em parceria com o Sebrae.
Vinhos pioneiros
A carne de onça, que ganhou seu registro em 20 de maio, não participou do evento, mas a primeira IG registrada no país, a dos Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, reconhecida em 2002 como Indicação de Procedência (IP) e dez anos depois como Denominação Geográfica (DO), foi um dos destaques do Connection tanto na área de exposições como no Palácio dos Festivais, onde ocorreram as palestras e debates temáticos. O palácio é o mesmo local onde se realiza anualmente o Festival de Cinema de Gramado.
André Larentis, presidente da Aprovale, associação criada em 1995 que reúne 32 produtores responsáveis pela produção de 17% dos vinhos finos e 12% dos espumantes nacionais, destacou que, além do selo de DO, o Vale dos Vinhedos foi reconhecido pelo Comitê de Gestão do Vinho da União Europeia e se tornou patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul.
Ele lembra que, quando a associação foi fundada, faltava estrutura e até estradas na região para escoar o produto das vinícolas familiares criadas pelos imigrantes italianos. “O que levou as famílias a se reunirem e lutarem para melhorar a qualidade e obter reconhecimento para os vinhos do Vale dos Vinhedos foi a necessidade de agregar valor aos produtos e gerar novos empregos.”
Só podem usar o selo produtores associados de três municípios: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, numa área de 72,45 km². A associação tenta agora criar um Plano Diretor único para os três municípios.
Desde 2016, a região recebe a visita anual de mais de 400 mil pessoas interessadas em conhecer seus vinhos, o processo de produção e participar das experiências do enoturismo.
Connection
Marta Rossi, CEO da empresa promotora do Connection, destacou que nos dois últimos anos, o evento quase dobrou o número de participantes, se consolidando como o palco mais importante de reunião de produtores com IG. “Estamos vivendo a valorização do nosso território, e é em cima dele que a gente cresce”.
Segundo avaliação do Sebrae, só a Alameda Terroirs, área destinada à exposição, degustação e comercialização de produtos com IG, movimentou mais de R$ 40 mil na primeira tarde, com expectativa de ultrapassar R$ 110 mil em vendas para os visitantes. O instituto considera o evento uma oportunidade única para discutir as indicações geográficas e como esse processo impulsiona a economia e os micro e pequenos negócios.
Eduardo Zorzanello, também CEO da empresa promotora do evento, disse que o mais importante é a herança que o Connection deixa para os produtores e artesãos.
IGs
As IGs são divididas em dois tipos: Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO). A IP reconhece a tradição produtiva de uma determinada região, já o selo da IG identifica produtos ou serviços cujas qualidades ou características são exclusivamente atribuídas à região, incluindo o modo de fazer, como os camarões da Costa Negra, do Ceará, o café do Cerrado Mineiro ou as bananas de Corupá (SC).
Os vinhos e espumantes são o segundo produto com mais indicações geográficas no país, depois do café com 17. No evento em Gramado, participaram 15 IGs de café. Outros produtos com selo do Inpi são carnes, embutidos, mel e própolis, queijos, cacau, mandioca, arroz, açafrão, cachaças, cajuína, erva-mate, banana, doces, cerâmicas e artesanatos.