O Brasil tem “vantagens consolidadas” para ampliar a adoção da agricultura regenerativa, um conjunto de práticas que tem como objetivo assegurar a saúde do solo. Para especialistas, acesso a crédito e a assistência técnica são dois dos elementos-chave para o avanço do modelo.
Kadigia Faccin, professora da Fundação Dom Cabral, diz que a construção da agricultura regenerativa é um processo com diversos elos. “É uma agricultura da cooperação, que ninguém faz sozinho”, afirmou. “Seja pequeno produtor ou grande”.
A professora participou das discussões do primeiro painel do Summit Agricultura Regenerativa, que a Globo Rural organizou na manhã desta segunda-feira (20/10), em São Paulo. O evento reuniu mais de 200 pessoas, entre produtores rurais, representantes da indústria, especialistas e autoridades, para estimular o debate sobre o sistema.
Para ela, cada vez mais produtores desejam “cruzar a ponte” em busca de mais boas práticas, mas esbarram em diferentes obstáculos. A falta de apoio técnico e financeiro são alguns dos entraves.
“Entre os desafios estão a própria decisão pela [produção com] sustentabilidade, superando o medo de abandonar práticas convencionais, e identificar as soluções especificas para sua propriedade, gerir essas mudanças e perceber os resultados”, afirmou.
Plantio direto, um “padrão sustentável” na agricultura
Segundo Marina Piatto, diretora do Imaflora, a agropecuária precisa sempre “subir a régua” da sustentabilidade por meio de melhoria contínua das práticas e uso dos recursos. Ela citou, por exemplo, o plantio direto, um “padrão sustentável” na agricultura de grande escala do país.
“A agricultura regenerativa começa pelo solo, com práticas como o plantio direto, mas extrapola para a biodiversidade, manejo integrado de pragas e doenças, uso racional da água, toda a questão do sequestro de carbono e outros”, citou.
Quatro pilares
Ludmila Rattis, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), apresentou os quatro pilares da agricultura regenerativa: saúde do solo, sistemas integrados e diversos, proteção da vegetação nativa e inclusão social.
“As propriedades que fizeram a transição para os [insumos] biológicos, por exemplo, têm um ganho de qualidade de vida na comunidade. É uma relação interessante que demonstra como o foco sobre o meio ambiente também se traduz [no bem-estar para] as pessoas”, disse ela.
Mas, para a pesquisadora, a falta de métricas confiáveis sobre diferentes aspectos que envolvem as boas práticas, como a agricultura regenerativa, é uma questão central.
“A carência de dados confiáveis e reconhecidos é um obstáculo para toda essa jornada, [que vai] do convencimento até o financiamento. Apesar de tudo, o Plano ABC (política pública de promoção da agricultura de baixa emissão de carbono) é uma joia brasileira. Precisamos fazer um Plano Safra mais alinhado para os pequenos produtores”, opinou.
Estímulo a quem já adota boas práticas
Alessandra Fajardo, diretora-executiva Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), reforçou a importância de se estimular boas práticas entre quem ainda não as adota, mas reconhecer quem já segue essas diretrizes.
“Já temos muitos produtores com boas práticas e em constante evolução no Brasil. Não podemos nos esquecer deles e, inclusive, deixar o caminho claro para que possam avançar ainda mais”, pontuou.
“A sustentabilidade é o único caminho”
Na abertura do evento, Alex Carreteiro, presidente da PepsiCo no Cone Sul, disse que a agricultura regenerativa é o principal instrumento do país, e também da empresa, para cumprir o objetivo de zerar o saldo de emissões de carbono.
“Quando o solo passar a ser sequestrador de CO2, a agropecuária vai mitigar as emissões do país como um todo e atuar sobre mudanças climáticas”, afirmou. “A sustentabilidade é o único caminho para se alcançar produtividade, resiliência e margens. A agricultura regenerativa é a grande mudança”.