O surto de gripe aviária de alta patogenicidade avança pelo mundo e o vírus H5N1, causador da enfermidade, já provocou a morte de uma pessoa nos Estados Unidos. No entanto, a indústria de carnes acredita que a demanda por frango não será afetada. Sobretudo pelo produto proveniente do Brasil.
“Não temos hoje grandes problemas de consumo no mundo relacionados a essa questão”, disse à Globo Rural o presidente do Conselho Internacional de Avicultura (IPC, na sigla em inglês), Ricardo Santin.
O executivo, que também é dirigente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirmou que a população global entende que a gripe aviária é uma doença de animais, e não de humanos. A transmissão para pessoas acontece somente mediante o contato com animais infectados.
Ainda assim, o IPC, que reúne integrantes de 30 países, responsáveis por 73% da produção mundial de carne de aves, deve se reunir neste mês para montar um plano de comunicação para prevenção, capaz de transmitir para a população um discurso unificado e informações corretas sobre a doença.
“Estamos estudando a melhor maneira de consolidar informações científicas e não deixar que sejam criadas fake news sobre a gripe aviária”, comentou.
A estratégia pode contribuir para a segurança dos consumidores e, em consequência, manutenção da demanda.
Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, concorda que, em linhas gerais, o consumo de frango vai se manter. “Pode ter uma ou outra parcela da população que se afaste, mas que não deve trazer grandes problemas para a indústria frigorífica”.
Nos Estados Unidos, em especial, há também uma questão mercadológica. “Eles estão no momento de escassez de oferta de carne bovina, oferta (de gado) muito restrita e há uma necessidade muito grande para adquirir outras proteínas de origem animal”, ressaltou Iglesias.
Além do efeito mais recente de substituição da carne bovina pelo frango, ocorreu nos últimos anos uma mudança estrutural nos hábitos alimentares dos consumidores dos Estados Unidos, desde a pandemia da Covid-19. Nesse processo, cresceu a demanda interna americana por cortes como coxas, reduzindo um pouco a hegemonia do peito.
A indústria americana, então, passou a destinar mais desses cortes para o mercado local, em detrimento da exportação.
No mês passado, o presidente da ABPA afirmou, citando dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), que, no acumulado de janeiro a outubro de 2024, as exportações de coxas dos EUA caíram 15% em relação ao mesmo período de 2023.
“Quando as vendas do meu maior concorrente caem, eu tenho mais espaço [no mercado internacional]”, disse Santin na ocasião, em coletiva de imprensa para comentar as expectativas de mercado para 2025.
Preocupação mundial
A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) disse nesta semana, em comunicado, que o avanço da doença exige “atenção global urgente, pois transcende suas origens aviárias para afetar mamíferos domésticos e selvagens com frequência crescente”.
Embora o vírus afete principalmente aves domésticas e selvagens, ele está sendo cada vez mais relatado em mamíferos terrestres e aquáticos. Segundo a OMSA, em novembro de 2024, mais de 30 espécies de mamíferos foram infectadas pela gripe aviária e a expectativa é que esse número vai aumentar.
A organização mencionou ainda que os casos de gripe aviária em rebanhos leiteiros dos Estados Unidos geram preocupações na comunidade internacional.
No Brasil, entre 2023 e 2024, foram registrados cerca de 166 focos do vírus da influenza aviária, todos em aves silvestres ou de subsistência, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. Nenhuma granja comercial foi atingida, o que manteve o status de segurança sanitária do país.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Saúde da Louisiana confirmou na segunda-feira (6/1) a morte da primeira pessoa infectada pelo H5N1, com 65 anos. No último final de semana, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS, na sigla em inglês) anunciou investimento de US$ 306 milhões em ações de monitoramento e prevenção contra o surto da doença no país.
Uma granja comercial de Portugal e outra da Hungria tiveram focos de gripe aviária confirmados na semana passada e relatados à Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH, na sigla em inglês).