A segunda-feira (22/9) foi marcada por uma baixa generalizada nos preços dos grãos na bolsa de Chicago, que foram impactados pela percepção de aumento na concorrência pelas commodities agrícolas americanas. No caso da soja, os contratos para novembro recuaram 1,41%, a US$ 10,11 o bushel.
O governo da Argentina zerou as retenciones (imposto de exportação) para grãos e derivados exportados pelo país até o dia 31 de outubro. A soja em grão tinha alíquota de 26%, enquanto farelo e óleo eram taxados em 24,5%. Segundo a consultoria Granar, a medida pode acelerar a liquidação dos estoques de soja e também de óleo e farelo da indústria. A meta do governo Javier Milei é arrecadar US$ 7 bilhões, conforme consta no texto da medida publicada no Diário Oficial.
De acordo com Luiz Pacheco, analista da T&F Consultoria Agroeconômica, a indicação de aumento das exportações argentinas joga ainda mais pressão de baixa para o grão em Chicago, principalmente após a frustração do mercado pela falta de acordo entre os presidentes da China e EUA na última sexta (19). Os chefes das duas nações conversaram por telefone, mas não houve nenhuma definição sobre um acordo comercial entre as partes.
“Ainda que os dois países cheguem a um consenso, a China não precisa comprar mais soja até o final do ano. A margem de esmagamento deles está muito apertada e os estoques são suficientes para chegar até dezembro”, disse Pacheco.
Para Ariel Nunes, analista da Gran Center Commodities, a suspensão das retenciones provoca sim um efeito de baixa para a soja, mas que é pontual, considerando o peso da Argentina no comércio global da soja em grão.
“O foco deles [Argentina] é manter o protagonismo nas exportações dos derivados da soja. Quando a China vem comprar o grão da América do Sul, o Brasil domina essa participação, já que a Argentina precisa desse estoque. No final, acredito que Argentina vai priorizar o processamento interno, com a indústria local optando por pagar mais para ficar com o grão”, destacou Nunes.
A ausência de negociações entre EUA e China também é apontada pelo analista como principal vetor de queda para a soja neste momento.
“A China ainda não tomou decisão sobre as compras de soja americana, como a colheita avança no país, a pergunta que fica é onde os EUA colocarão todo esse volume de safra?”, questionou
Trigo
O trigo também foi pressionado pela suspensão das retenciones na Argentina. Os contratos para dezembro caíram 2,25%, a US$ 5,1075 o bushel.
Os exportadores de trigo na Argentina terão alíquota zero para negociar o cereal até o final de outubro, versus uma taxa que era de 9,5%.
Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica, diz que a medida deve beneficiar as exportações argentinas em detrimento das americanas. Ele acrescenta, ainda, que os preços do cereal já estão em um canal de baixa em Chicago, devido às boas perspectivas para as safras da Rússia e da Austrália.
Milho
O milho caiu em Chicago impactado pela suspensão dos impostos de exportação na Argentina. Os lotes do cereal para dezembro fecharam em queda de 0,53%, a US$ 4,2175 o bushel.
O governo da Argentina anunciou hoje que a exportação de milho do país terá taxa zero até o final de outubro. Antes, o imposto cobrado era de 9,5%. Os argentinos são o terceiro maior exportador mundial de milho, e deverão fornecer 37 milhões de toneladas na temporada 2025/26, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
O avanço da colheita da safra americana também acentua a desvaloziação do milho no mercado internacional.