Um a três em cada 100 mil atletas jovens saudáveis possam morrer repentinamente fazendo exercícios, segundo estimativas. A principal causa para morte súbita nesse público é a miocardiopatia hipertrófica, doença cardíaca que provoca o espessamento do músculo do coração, afetando uma em cada 500 pessoas, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
No “CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista” deste sábado (26), Dr. Roberto Kalil explora o tema ao lado de Fábio Fernandes, diretor do grupo de Miocardiopatias do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), e Otávio Rizzi Filho, professor de cardiologia da Universidade de Campinas (Unicamp).
A miocardiopatia hipertrófica é causada, geralmente, por um defeito genético hereditário. Na condição, as paredes espessas e rígidas dos ventrículos não relaxam de maneira adequada para permitir que as câmaras cardíacas se encham de sangue. Essa dificuldade se agrava quando o coração bate mais rápido, como durante as atividades físicas. Por não se encher suficientemente, o coração bombeia menos sangue a cada batimento.
Em muitos casos, a miocardiopatia hipertrófica é assintomática. Contudo, quando há sintomas, os mais comuns são tonturas, falta de ar e palpitações, podendo ocorrer até desmaios, especialmente durante o esforço físico.
“A grande maioria dos pacientes tem uma forma benigna e quase 46% são assintomáticos, os outros pacientes, por volta de 48%, tem sinais e sintomas de insuficiência cardíaca, como falta de ar, ortopneia e edema, porque uma parte desses pacientes tem uma forma chamada obstrutiva, em que existe uma obstrução do fluxo sanguíneo, e outros pacientes podem evoluir com arritmia”, explica Fernandes.
O diagnóstico pode ser feito a partir de exames que avaliam a espessura do coração. “Um paciente normal vai ter uma espessura no coração de 10 a 11 milímetros, e um indivíduo com essa doença normalmente tem mais do que 15 milímetros, o que é relativamente fácil de ser avaliado com o exame que a gente conhece como ecocardiograma”, afirma Rizzi Filho.
A doença, sem os devidos cuidados, pode levar à morte, como ocorreu com o triatleta amador João Paulo Diniz em 2022. Por isso, é “muito importante a avaliação pré-atividade física para os atletas, porque ele pode ter a doença e muitos pacientes que desenvolvem a morte súbita, estavam praticando algum exercício de alta intensidade”, alerta Fernandes.
O tratamento pode incluir uso de medicamentos, restrições à atividade física e, em situações mais críticas, até a implantação de um desfibrilador interno.