O Palmeiras trata de maneira especial a disputa da primeira edição da Copa do Mundo de Clubes da Fifa, nos Estados Unidos. Este é considerado o ápice de um clube que se consolidou na última década como um dos principais campões de títulos e receitas no futebol brasileiro.
O processo começou há exatos dez anos, logo após o clube se livrar do rebaixamento no Brasileirão de 2014 na rodada final.
A revolução no departamento de futebol se apoiou na melhoria de estrutura, crescimento na arrecadação com o Allianz Parque e a parceira com Crefisa/FAM, além do desenvolvimento das categorias de base. O ge destrincha a influência de cada ponto neste processo.
– Em dez anos, conseguimos fazer um trabalho de excelência. Não tenho dúvidas, temos os melhores profissionais da América do Sul. Eles ficam porque o Palmeiras é muito sério. Honra compromisso, paga em dia – declarou a presidente Leila Pereira ao ge.
Arrecadação explode, e Verdão vira bilionário
O Verdão passou por três presidentes diferentes (Paulo Nobre, Maurício Galiotte e Leila Pereira), os dois últimos se tornaram até desafetos do primeiro, mas houve algo raro no futebol brasileiro: continuidade.
Apesar de divergências entre os mandatários, o Palmeiras manteve uma linha de trabalho sem mudanças profundas. A partir de 2015, com a inauguração do Allianz Parque e o patrocínio da Crefisa e Faculdade das Américas, o clube começou a elevar sua arrecadação.
Partiu de R$ 351,4 milhões em receitas no ano de 2015 para o recorde de R$ 1,2 bilhão em 2024. A expectativa em 2025 é de que mais uma vez o clube arrecade acima da casa de R$ 1 bilhão.
O poderio financeiro fez o clube consolidar a fama de bom pagador e um dos maiores investidores do futebol brasileiro. Em 2025, foram R$ 435 milhões investidos em reforços para montar o elenco que é considerado o mais forte da era Abel Ferreira.
Academia de Futebol turbinada e blindada
Ao longo dos últimos dez anos, o Palmeiras conseguiu afastar a influência da política no dia a dia do departamento de futebol. A Academia de Futebol foi ficando cada vez mais blindada para evitar que as turbulências de um clube com bastidores efervescentes ditassem o rumo do trabalho no campo.
– Não imaginava que ia ser assim, fechado politicamente. (O Palmeiras tinha) A turma do amendoim, muita política e zerou. Era (Alexandre) Mattos, eu e Cícero (Souza), os executivos tocando o futebol com o presidente – recordou João Paulo Sampaio, que desde 2015 é coordenador das categorias de base do Verdão.
Na primeira metade da década, Alexandre Mattos foi o diretor de futebol, tendo João Paulo no comando da base e Cícero Souza como gerente de futebol.
Conhecido pela postura agressiva no mercado, Mattos chegou para 2015 como peça-chave na reformulação do clube. Ele e Cícero organizaram a reforma da Academia de Futebol, que se tornou Centro de Excelência a partir de 2017, construído no lugar de um antigo ginásio que já não era usado.
– Em 10 anos, a gente vê a profissionalização virar resultado, estrutura. (A Academia) Era um ginásio e virou um dos melhores CTs do país e do mundo. Vê o CT da base como foi transformado, o futebol muito próximo, antes a base nem treinava (perto dos profissionais), nada – lembrou João Paulo.
Ao fim de 2019, já desgastado com a torcida, Mattos deixou o Palmeiras, e Anderson Barros assumiu a gestão em seu lugar.
Com perfil diferente do antecessor, o atual diretor de futebol recebe elogios pela gestão do dia a dia na Academia de Futebol e manutenção de estrutura e elenco fortes, também apostando na continuidade. Cícero deixou o Verdão para trabalhar na CBF em 2024.
Desde a chegada de Barros, em 2020, o Verdão teve apenas dois treinadores: Vanderlei Luxemburgo e Abel Ferreira. O técnico português vai para a Copa do Mundo de Clubes com um trabalho de cinco anos e negocia para renovar o vínculo, que acaba no fim do ano.
– O Palmeiras é sortudo de pessoas. Não só bons profissionais, mas o ambiente tão salutar e com um treinador há cinco anos. Isto é muito difícil. As pessoas estão aqui porque querem estar. O Palmeiras te vicia, te cativa a estar lá – resumiu João Paulo.
Base passa a jogar e render (muito) dinheiro
Quando João Paulo chegou ao Palmeiras, o dirigente entendia que o clube tinha uma estrutura menor até do que de alguns clubes de Série B na base. Não havia tradição em formar atletas, mas investiu para isso. E recuperou frutos.
Gabriel Jesus foi a primeira grande transferência, em 2016, para o Manchester City, por 32,7 milhões de euros (R$ 121 milhões na cotação da época). Mas o Verdão ainda não tinha uma frequência de uso de jogadores da base no profissional. Isso mudou a partir de 2020.
Desde então, 45 atletas formados no Palmeiras tiveram chance no time de cima. Muitos deles com papel decisivo nesta fase vitoriosa, como Danilo, Endrick e Estêvão. Ao todo, foram quase R$ 2 bilhões em vendas de jogadores da base neste período.
– Na base, o Palmeiras não estava entre as 12 melhores escolas do país, em estrutura, resultado, pessoas, processo. Era quase semiamador – disse João Paulo.
– Tinha a fama do futebol profissional, os títulos, a história, grande torcida, mas o Brasil estava cobrando. Era piscina térmica para criança no profissional. E poucas pessoas, quase sem análise de desempenho.
– Na base, mais ainda. Até tinha uma boa estrutura fora, administrativa, social, mas eram quatro treinadores, três preparadores físicos e dois captadores. Hoje temos 10, treinadores são 12. Aumentamos o número de pessoas, o investimento na estrutura do ano passado para cá, de fazer melhores atletas – completou.
Na Copa do Mundo de Clubes, o grande nome do elenco do Palmeiras é Estêvão, uma das Crias da Academia. Ele fará sua despedida ao fim da competição, quando se apresentará ao Chelsea. O clube inglês pagou 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões) para levar o atacante.
A era Abel Ferreira
Dos 13 títulos que o Palmeiras conquistou na década, dez foram sob o comando de Abel Ferreira. A chegada do treinador ao fim de 2020 impulsionou o clube para o momento mais vencedor de sua história.
Com quatro anos e sete meses de trabalho, o português tem a passagem mais longeva do futebol brasileiro atualmente. Deve, inclusive, tornar-se no fim do ano aquele com trabalho mais longo em uma equipe desde que o Brasileirão passou a ser disputado em pontos corridos, em 2003.
Na contramão dos outros clubes no país, a intenção do Verdão é continuar aumentando esta marca. A diretoria já sinalizou a Abel e seu empresário a intenção de renovar até o fim de 2027. Depois de indicar a possibilidade de sair, o comandante abriu a porta para continuar a trajetória no Brasil.
– É uma honra e orgulho ser treinador do Palmeiras . O Palmeiras não precisa fazer mais nada. Vamos fazer como sempre fizemos, o mais importante agora é ajudar meus jogadores, ajudar a equipe, com tempo, carinho e respeito, tudo se vai decidir do que é o melhor para o Palmeiras – declarou, em maio.
Internamente, o técnico é um dos mais empolgados com a competição nos Estados Unidos. E após ela, a diretoria espera sacramentar sua permanência e assim manter a estrutura para que o sucesso recente não pare nesses dez anos.