Câncer infantojuvenil: a importância do diagnóstico precoce e do acesso ao tratamento especializado
Os desafios para o diagnóstico precoce e o papel do tratamento multidisciplinar
O câncer infantojuvenil representa um grande desafio para a saúde pública e é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil (8% do total), segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Apesar dos avanços na medicina, o diagnóstico tardio ainda é uma barreira, impactando diretamente as chances de cura. Os sinais da doença muitas vezes se confundem com condições comuns da infância, tornando essencial a capacitação de profissionais de saúde e a conscientização dos pais para a identificação precoce dos sintomas.
Diante desse cenário, Viviane Sonaglio, líder do Centro de Referência em Tumores Pediátricos e Head da Pediatria do A.C. Camargo Cancer Center, que faz parte da Rede Care Plus, comenta sobre os sinais de alerta, os desafios do diagnóstico precoce e os avanços no tratamento oncológico pediátrico.
Desafios para o diagnóstico precoce
“O diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil é extremamente desafiador, pois seus sinais e sintomas iniciais se assemelham aos de doenças comuns da infância, como febre persistente, ínguas pelo corpo, manchas roxas sem causa aparente, dor abdominal e dor de cabeça. Esses sintomas podem ser confundidos com quadros virais, sinusites ou até mesmo com hematomas resultantes de brincadeiras. O grande desafio está na evolução desses sinais. Quando um sintoma não melhora conforme o esperado para doenças comuns da infância — como uma febre prolongada, uma dor de cabeça que desperta a criança do sono com frequência ou uma dor abdominal sem causa identificável —, exames complementares devem ser considerados. Esses exames são simples, mas podem ajudar a identificar precocemente doenças graves, incluindo o câncer”, explica.
Ter um pediatra que acompanhe a criança regularmente é essencial. Um profissional que conhece o histórico do paciente consegue perceber quando algo não está evoluindo como deveria e pode solicitar exames adicionais, conforme necessário. Isso aumenta significativamente as chances de um diagnóstico precoce, permitindo um tratamento menos agressivo, com menor toxicidade e maiores taxas de cura. “Atualmente, em centros de referência, até 85% das crianças diagnosticadas precocemente com câncer podem ser curadas” afirma Viviane.
A importância do tratamento multidisciplinar
Ainda de acordo com a especialista, o câncer infantil exige um tratamento multidisciplinar, em que diferentes especialistas atuam de forma integrada. A equipe médica conta com oncologistas pediátricos, cirurgiões oncológicos, neurocirurgiões, radioterapeutas e especialistas pediátricos, como endocrinologistas, nefrologistas e neuropediatras. Além disso, profissionais de áreas complementares desempenham um papel fundamental no tratamento e na reabilitação, como radiologistas, patologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, dentistas, nutricionistas e enfermeiros.
“Esse cuidado integral melhora significativamente os resultados do tratamento e a qualidade de vida dos pacientes. O acompanhamento contínuo e a coordenação entre diferentes especialidades garantem um suporte abrangente à criança e à família, aumentando as chances de recuperação e minimizando os impactos da doença”, diz Viviane.