O estado de São Paulo está enfrentando as consequências provocadas pelas queimadas que atingiram o território paulista nos últimos dias. A Defesa Civil estadual informou na segunda-feira (26) que todos os focos de incêndio haviam sido extintos. Mesmo assim, 48 municípios ainda estavam em alerta máximo por causa dos eventos climáticos.
A principal suspeita é de que as queimadas tenham sido provocadas por ação humana. Ao menos quatro pessoas foram presas sob suspeita de terem iniciado incêndios em vegetações no interior do estado. As prisões ocorreram em Porto Feliz, São José do Rio Preto e Batatais (duas).
Também na segunda-feira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou à CNN que, inicialmente, não acredita na possibilidade de que tenha havido uma ação coordenada para provocar as queimadas.
“Acho muito prematuro afirmar que há uma ação coordenada, eu prefiro a cautela. A gente tem que investigar se há relação entre as ações criminosas”, disse o chefe do Executivo.
Veja o que se sabe sobre as ocorrências
Como estão as investigações
A Polícia Civil de São Paulo afirma que “está mobilizada para investigar todas as ocorrências de incêndio criminoso no estado, especialmente as que ocorrem nas regiões afetadas pelas queimadas”.
A primeira prisão ocorreu na manhã de sábado (24) em São José do Rio Preto (a 440 quilômetros da capital paulista). O suspeito é um idoso de 76 anos, detido por policiais militares após atear fogo no lixo em uma área de mata no bairro Jardim Maracanã. O homem foi denunciado por uma moradora, que presenciou a cena e acionou os agentes.
A outra prisão aconteceu na manhã de domingo (25) em Batatais (a cerca de 355 quilômetros da cidade de São Paulo). O suspeito foi flagrado com um galão de gasolina. O homem preso tem 42 anos e, segundo consta no boletim de ocorrência, declarou aos policiais que é integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O documento diz que os policiais, no momento da prisão, “indagaram o autor informalmente – tendo o mesmo assumido que ateou fogo no local e, que foi por ordem do Primeiro Comando da Capital, bem como o autor, identificado como Alexandre Arantes, disse isso se vangloriando, pois conseguiu atear fogo, que se alastrou pelo local”.
A terceira prisão, informada na manhã desta segunda-feira, foi registrada em Porto Ferreira, a cerca de 225 quilômetros da capital paulista. Ainda não há detalhes sobre o detido.
A quarta prisão foi nesta segunda-feira (26). Um homem de 27 anos foi preso em flagrante após por fogo em um pasto no Jardim Aurora, também em Batatais.
No domingo, a Polícia Federal também informou que participará das investigações a respeito dos incêndios florestais –não somente em São Paulo, como também em outros estados.
Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, dois inquéritos foram instaurados no fim de semana para investigar possibilidade de crime nas regiões de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.
Áreas afetadas
De acordo com a Defesa Civil estadual, a área total que foi atingida pelas queimadas é de aproximadamente 34 mil hectares –o equivalente a 34 campos de futebol.
Até o fim da tarde de segunda-feira, 48 municípios estavam em alerta máximo. Entre eles estão Piracicaba, Sertãozinho, Jaú e São Luís do Paraitinga. Veja a lista completa de cidades abaixo. Segundo o governador, esse estado significa o preparo para evitar uma reignição, proteger as unidades de conservação e indústrias e residências. Algumas cidades tiveram de suspender as aulas.
Vítimas
Balanço divulgado pela Defesa Civil na noite de domingo informa que os incêndios na vegetação deixaram ao menos 62 vítimas no estado, sendo dois mortos na região de São José do Rio Preto e 60 feridos na região de Ribeirão Preto. Além disso, 810 pessoas ficaram desalojadas.
As duas mortes foram de funcionários de uma usina em Urupês (a cerca de 430 quilômetros da capital paulista). Eles morreram enquanto tentavam combater um incêndio no local.
Ações de resposta
Na sexta-feira, o governo de São Paulo decretou situação de emergência por 180 dias nas áreas de 45 municípios afetados por incêndios florestais. Um gabinete de crise foi criado para lidar com a situação.
O governo federal deve reconhecer a situação de emergência nos locais apontados pelo Executivo paulista. Uma edição extra do Diário Oficial da União pode ser publicada ainda nesta segunda-feira (26) com a decisão.
O Palácio dos Bandeirantes também anunciou que irá disponibilizar um valor de R$ 100 milhões para produtores afetados pelos incêndios, a título de subvenção ao seguro rural.
O governo informa que o limite por produtor rural é de R$ 25 mil e que qualquer agricultor prejudicado pode acessar o crédito.
“A subvenção tem como objetivo amenizar os impactos das perdas de produção, causadas pela seca e outras intempéries, além de disponibilizar recursos para custeios emergenciais”, diz o governo estadual.
No domingo, a Defesa Civil e o Fundo Social do Estado enviaram ajuda humanitária para a cidade de Pradópolis, localizada na região de Ribeirão Preto. Os caminhões levarão 100 colchões, 200 cestas básicas e 14 paletes de água para 270 famílias que tiveram que deixar suas moradias.
Resposta do governo federal
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no domingo no Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Brasília. Uma reunião de caráter emergencial foi convocada pelo presidente após a fumaça dos incêndios atingirem várias cidades das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Um panorama foi apresentado pela equipe do Ibama e pelos ministérios que integram a sala de situação, formada pelo governo federal ainda em junho, para acompanhar os incêndios pelo país em período de seca.
Riscos à saúde
Além dos impactos para o meio ambiente, a fumaça intensa e a neblina causada pelas queimadas pode trazer efeitos negativos para a saúde da população que vive nas cidades afetadas e nas regiões próximas.
Segundo Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as fumaças provenientes das queimadas contém micropartículas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e ozônio, que são danosos ao pulmão e podem agredi-lo, causando inflamação.
Segundo o especialista, pessoas que tiveram contato próximo com as fumaças podem ter sintomas como falta de ar, tosse, chiado no peito e expectoração (secreção pela tosse). “Provavelmente, nas regiões mais próximas dos focos das queimadas, a tendência é ter um pico de aumento de até 20% de procura por atendimento médico em 48 horas, devido aos sintomas respiratórios”, afirma Fiss. Em casos mais graves, é possível desenvolver quadros de pneumonia.
As partículas presentes na fumaça das queimadas também são irritativas para os olhos, conforme explica Alexandre Costa, oftalmologista do Hospital Nove de Julho, à CNN.
“Essas substâncias podem entrar em contato com o olho e causar irritação, vermelhidão, sensação de areia, lacrimejamento, e, até mesmo, causar algum tipo de arranhadura na córnea, no caso de partículas de fuligem que entram em contato com o olho”, explica.
Orientações à população
O governo de São Paulo fez uma lista de alertas para a população que vive na área afetada pelas queimadas:
- Ao avistar um foco de incêndio ou fumaça densa, saia imediatamente da área e busque abrigo seguro. Informe o Corpo de Bombeiros (193) e a Defesa Civil (199);
- Redobre a atenção ao dirigir;
- Evite atravessar áreas com cortinas de fumaça e fogo. Caso seja inevitável, reduza a velocidade, mantenha os faróis baixos acesos e uma distância segura do veículo à frente;
- Evite se deslocar pelas rodovias e rotas com interdições. Se for necessário, busque rotas alternativas seguras;
- Não solte balões. Balões que usam fogo podem provocar incêndios florestais;
- Evite acender fogueiras, especialmente próximo às matas e florestas;
- Não utilizar o fogo para fazer limpeza de terrenos ou queimar lixo. Faça descarte adequado de seus resíduos;
- Faça queima controlada somente quando permitido e com autorização da Cetesb;
- Em propriedades rurais, construa e mantenha aceiros limpos para evitar a propagação do fogo, principalmente próximo às estradas e rodovias e às áreas florestais;
- Cadastre-se para receber os alertas da Defesa Civil no seu celular. Basta enviar um SMS com o seu CEP para o número 40199.
Recomendações para quem tem problemas respiratórios
Também foi feita uma lista pelo governo de São Paulo com as recomendações para as pessoas que possuem problemas respiratórios e vivem perto das áreas onde há incêndios em vegetação. Veja:
- Pacientes com asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e rinite alérgica devem manter o tratamento regular com sua medicação inalatória (bombinhas);
- Quem não faz uso frequente, deve utilizar a bombinha regularmente neste momento para tratamento de asma ou rinite, antes que os sintomas aumentem;
- Obter medicação usada em quadros críticos anteriores e utilizar o mais cedo possível, caso iniciem sintomas respiratórios;
- Se possível, não sair de casa. Vedar portas e janelas;
- Se precisar sair de casa, usar máscara, preferencialmente PFF2/N95;
- Evitar locais com grande concentração de fumaça. A fumaça é tóxica e pode causar problemas respiratórios imediatamente;
- Quem tiver contato direto próximo a áreas de queimada, se apresentar sintomas respiratórios como falta de ar, chiado no peito, tonturas, dor de cabeça, procurar atendimento médico;
- Beber água. A hidratação é muito importante para a via aérea. Atenção especial com crianças e idosos, pelo maior risco de desidratação;
- Lavar o nariz e olhos com soro fisiológico;
- Umidificadores podem ser usados, mas precisam ser limpos diariamente. Usar toalhas molhadas e bacias com água, caso não tenha umidificador em casa;
- Suspender a prática de atividade física ao ar livre nos próximos dias.
O que fazer em caso de perigo
As autoridades recomendam que, se avistar um foco de incêndio ou fumaça em grande intensidade, deixar o local imediatamente, abrigar-se e informar o Corpo de Bombeiros (193) e a Defesa Civil (199).
SP tem maior número de queimadas desde 1998
O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado é o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os 23 dias de agosto somam 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).
Cidades em alerta máximo para incêndio
Até o início da noite de segunda-feira, 48 cidades paulistas estavam em alerta máximo para incêndio. São elas:
- Monte Alegre do Sul
- Alumínio
- Santo Antônio do Aracanguá
- Piracicaba
- Pontal
- Monte Azul Paulista
- Sertãozinho
- Torrinha
- Santo Antônio da Alegria
- Nova Granada
- Iacanga
- Taquarituba
- Coronel Macedo
- Ubarana
- Pompeia
- Boa Esperança do Sul
- Pitangueiras
- Salmourão
- Lucélia
- Poloni
- Dourado
- Sabino
- Jaú
- Pirapora do Bom Jesus
- Itápolis
- Itirapina
- Bernardino de Campos
- São Simão
- Presidente Epitácio
- Bebedouro
- Bananal
- São Luís do Paraitinga
- Ibitinga
- Tabatinga
- Brodowski
- Luís Antônio
- Pedregulho
- Tambaú
- Urupês
- Turiúba
- Arealva
- Pradópolis
- Altinópolis
- Paulo de Faria
- Águas da Prata
- Morro Agudo
- Batatais
- Barrinha