São Paulo — Dos tempos em que ocupavam as manhãs na TV aberta ao consumo massivo nas plataformas de streaming, os animes deixaram para trás a imagem de produto restrito a grupos específicos e hoje figuram entre os títulos mais assistidos pelos fãs de cultura pop.
O engajamento também mudou. Para esse público, assistir não é suficiente: as séries geram debates entre amigos, incentivam coleções temáticas e movimentam grandes eventos, onde cosplayers lotam arenas e disputam espaço para ver de perto seus dubladores favoritos.
O sucesso no Brasil, porém, não é recente. Desde os anos 1990 e 2000, títulos como Dragon Ball e Naruto formaram gerações de fãs, que seguem consumindo novos conteúdos — dos animes de ação aos romances e produções voltadas ao público infantil.
Para Rodrigo Bravo, professor de Linguagens da ESPM, o consumo de animes no Brasil é um fenômeno “que já deixou de ser episódico e se tornou estrutural”. Segundo ele, o país passou de uma cultura guiada pelo “acaso televisivo” e por “comunidades semiclandestinas”, como os fóruns de fansubs, para um cenário em que os animes estão plenamente integrados, impulsionados pelo streaming e pela mídia digital.
A ampliação do catálogo de animes em serviços de streaming — como a Crunchyroll, focada no gênero, e a própria Netflix — tornou essas produções muito mais acessíveis ao público brasileiro, o que também contribuiu para aumentar sua presença no entretenimento.
“É comum encontrar pessoas que nunca se consideraram consumidoras de anime mas que sabem quem é Luffy [de One Piece] ou que já viram algum episódio de Demon Slayer e reconhecem a estética dos cabelos coloridos e possuem referências dispersas de obras variadas”, pontuou Rodrigo.
O consumo de animes no Brasil
Dados divulgados pela empresa de pesquisa National Research Group (NRG) sobre o consumo de animes apontam que esse tipo de conteúdo é assistido semanalmente por 59,8% dos brasileiros. O país se tornou também o que mais consome animes fora de mercados tradicionais como a China e o Japão, que popularizou essas produções.
Para Roberta Fraissat, diretora de Marketing da Crunchyroll na América Latina, um dos principais elementos do consumo dos brasileiros com esse tipo de conteúdo é a busca por algo novo nas redes sociais. Além disso, ela destaca que as histórias dos animes conseguem atingir públicos de diferentes idades.
“Essa relação de boas histórias é que conecta emocionalmente, independente da idade, independente do gênero. Então, acho que isso é o que hoje as pessoas estão buscando: boas histórias para se entreterem”, pontua.
Quem é o público e o que eles gostam de consumir
Dados da NRG mostram que 54% da geração X e 51% dos millennials assistem a animes há mais de dez anos. O público mais jovem também está totalmente inserido nesse universo: 52% da geração Z no mundo dizem “amar” ou “gostar” de anime.
Os motivos que mais atraem o público são a qualidade da animação (37%), os personagens e relações envolventes (35%) e as histórias criativas das séries (34%).
O fenômeno, porém, não se limita à tela. O mercado enxerga os fãs como um público fiel e altamente engajado, especialmente no consumo de produtos relacionados às obras que acompanham.
A pesquisa Geek Power 2024 indica que 68% dos fãs consideram importante cultivar sua paixão por animes, 66% compram peças de vestuário inspiradas nas séries, 62% investem em figures e colecionáveis e 52% participam de eventos temáticos.
No varejo, o impacto é evidente, segundo William Pinheiro, head da FANLAB. “A base de fãs é muito fiel. Quando veem um produto de One Piece ou Demon Slayer, eles ficam malucos para comprar. Eles gostam de consumir e se sentem conectados às histórias de uma forma muito mais intensa do que outros fãs da cultura pop”, afirma.







