Embora o câncer seja uma doença potencialmente grave, avanços na medicina têm garantido cada vez mais chances de sucesso no tratamento. O problema é que algumas pessoas ainda apostam em promessas de cura por métodos alternativos, muitas vezes sem comprovação científica.
Nos últimos anos, especialistas têm observado um aumento expressivo de pacientes que interrompem ou adiam o tratamento oncológico convencional em busca de terapias chamadas de “naturais”.
Segundo o oncologista Wesley Pereira Andrade, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), até 30% dos pacientes recorrem a algum tipo de terapia alternativa durante o tratamento, e parte deles chega a abandonar completamente a quimioterapia, a radioterapia ou o tratamento hormonal.
Redes sociais e o avanço da desinformação
Para Andrade, as redes sociais têm papel central nesse movimento. Plataformas como Instagram e TikTok impulsionam conteúdos emocionais e promessas de cura sem respaldo científico, enquanto informações baseadas em evidências acabam com menos alcance.
“O algoritmo privilegia o que emociona, não o que é verdadeiro. O resultado é que discursos pseudocientíficos acabam ofuscando o trabalho de sociedades médicas e de publicações revisadas por pares”, explica o médico.
O oncologista Eduardo Vissoto, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, também tem visto crescer o número de pacientes que chegam ao consultório após meses afastados das terapias convencionais.
“Hoje, com o acesso fácil à internet, muitas pessoas se deparam com promessas de ‘cura natural’. O problema é que, na prática, encontramos casos em que a doença já evoluiu porque o tratamento foi interrompido. O tempo, no câncer, é um fator decisivo”, afirma.
Riscos físicos e emocionais do abandono do tratamento
Além do risco de atraso no tratamento, há o perigo das interações entre terapias alternativas e medicamentos oncológicos. De acordo com Andrade, algumas substâncias naturais podem interferir na absorção de remédios, reduzir a eficácia da quimioterapia ou potencializar efeitos adversos.
“Há fitoterápicos com ação antioxidante intensa que diminuem o efeito da quimioterapia ou alteram a flora intestinal, prejudicando a resposta à imunoterapia”, aponta.
Outro ponto de alerta são os efeitos emocionais. Para os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, o sentimento de “controle” que essas práticas prometem pode gerar falsa segurança e adiar decisões terapêuticas importantes.
“O paciente busca esperança e um sentido de controle sobre a doença, o que é completamente humano. Por isso, o diálogo entre médico e paciente precisa ser acolhedor e sem julgamento”, ressalta Vissoto.
Diálogo entre médico e paciente
A comunicação aberta, segundo ele, é essencial para manter a confiança e evitar que o paciente se afaste do tratamento. “Quando há confiança e respeito, ele se sente seguro para tomar decisões baseadas em evidências. Em alguns casos, se o tratamento alternativo for seguro e não interferir na terapia principal, pode ser conciliado, desde que haja acompanhamento médico constante”, acrescenta o oncologista Eduardo Vissoto.
Os médicos reforçam que práticas como alimentação equilibrada, atividade física, espiritualidade e meditação podem complementar o cuidado, mas jamais substituir o tratamento oncológico.
“O tratamento indicado pela equipe médica é resultado de décadas de pesquisa e é o que comprovadamente oferece as melhores chances de cura. Quando paciente e médico caminham juntos, o cuidado é mais completo, humano e eficaz”, afirma Vissoto.







