O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (19) manter a taxa Selic no patamar de 10,5% ao ano.
Os juros elevados tendem a reduzir o consumo, afetando negativamente setores como o varejo. Contudo, a manutenção da taxa básica de juros dividiu o setor, que por um lado vê uma decisão “responsável”, mas que também pontua que a decisão traz preocupação.
“Em linha com os demais setores produtivos do país, entendemos que esse é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 ponto nesta reunião”, afirma, em nota, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O economista-chefe da Confederação, Felipe Tavares, reforça que ao ancorar as demais taxas de crédito do país, a Selic alta afeta tanto o consumidor, quanto as empresas.
“A redução dos juros é fundamental para dinamizar o custo de capital das empresas e baratear o acesso ao crédito para o consumidor. Com o crédito mais barato, as pessoas têm mais facilidade para adquirir bens, serviços e patrimônios”, explica Tavares.
“Já para as empresas, [o crédito mais barato] é benéfico porque viabiliza financiamentos e obtenção de capital de giro”, conclui.
Por outro lado, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) defende que o Banco Central agiu com responsabilidade ao pausar o ciclo de cortes.
“Embora seja má notícia para o setor produtivo, a Fecomercio-SP avalia que a parada técnica era necessária em meio a uma conjuntura econômica que aponta para riscos inflacionários”, disse em nota.
A Federação chama atenção para o cenário de incerteza fiscal no país.
“O governo admitiu, há alguns meses, que não conseguirá atingir a meta de déficit de gastos neste ano, mas não aproveitou a oportunidade para mostrar um plano de contingência alternativo ao arcabouço fiscal existente”, ressaltou a Fecomercio-SP.
Incertezas fiscais
Em abril, o governo federal alterou a meta fiscal de 2025 de um superávit para déficit zero. A redução da meta não foi bem recebida pelo mercado, que viu a imagem de responsabilidade fiscal do governo arranhada.
Com a deterioração das expectativas de déficit, as apostas para a inflação subiram, vendo uma alta dos preços maior no final do ano. A consequência dos chamados riscos inflacionários: a manutenção dos juros elevados.
“Por tudo isso, a decisão do Copom foi correta. Caso a instituição decidisse cortar mais a Selic, poderia haver um aumento imediato das expectativas de inflação no longo prazo e o empresariado já sentiria no presente um aumento das taxas de juros nos financiamentos de longo prazo”, defende a Fecomercio-SP.
“Para a Federação, aliás, a volta do ciclo de cortes está condicionada agora a um plano de ajuste fiscal apresentado pelo governo ao país que seja feito via corte de despesas. Sem isso, o BC continuará refém de incertezas.”
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