É quase inverno, e os termômetros em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, marcam mais de 31 graus às 10h. Mesmo assim, as vacas seguem tranquilas no galpão que Arinilson Macena inaugurou no início do ano. O espaço tem um sistema com ventilação e aspersores de água que mantém a temperatura em 25 graus, e a produção de leite só faz crescer.
O caso de Macena é parte de uma transformação que tem ocorrido no sertão do Nordeste. Segundo o IBGE, em 2024 a captação de leite na região cresceu 6%, ritmo superior à média nacional, de 3%.
“O Nordeste é, com certeza, a bola da vez no crescimento da produção de leite”, diz Armindo Neto, diretor da Alvoar Lácteos, empresa líder em vendas na região.
Com experiência de 30 anos no segmento, ele diz que na região há projetos de “produtores muito grandes com produção de 20 mil litros por dia indo para 30 mil litros, 40 mil litros”:
“Não tenho muita dúvida de que vamos crescer fortemente nos próximos anos.”
No caso de Macena, a produção passou de 18 litros por vaca ao dia para 30,9. O produtor reduziu a dependência que tinha das vacas girolando e passou a utilizar as da raça holandesa, que têm potencial produtivo maior, mas são mais sensíveis.
“A grande vantagem do girolando no Ceará, em termos de produção de leite, era a resistência. Agora, eu não preciso mais de resistência porque tenho o conforto”, afirma.
O caminho até o conforto dos animais não foi simples. Dono de uma empresa que desenvolve projetos na área, Macena já havia montado três sistemas no Ceará antes de conseguir fazer o seu. Ele investiu R$ 2,5 milhões em recursos próprios e levou dois anos para concluir o projeto.
Para superar a grande barreira para a transformação, o crédito, a Alvoar distribuiu no ano passado R$ 85 milhões para os produtores de leite investirem em aumento ou modernização da produção.
“Viabilizar essas fontes de investimento talvez seja o nosso grande papel nessa história. Dinheiro, tem”, afirma Armindo Neto.
No Banco do Nordeste, líder em crédito rural na região, a carteira de financiamento para a pecuária leiteira é hoje de R$ 7,25 bilhões. No ano passado, as novas liberações somaram R$ 2,6 bilhões, um aumento de 29% sobre 2023.
Segundo o superintendente de agronegócio e microfinança rural do banco, Luiz Sérgio Farias Machado, o crescimento deveu-se diretamente à expansão dos limites de crédito para a agricultura familiar que ocorreu no último Plano Safra — o teto subiu de R$ 6 mil por família para até R$ 36 mil.
Atualmente, 83 mil cearenses vivem ou sobrevivem da pecuária de leite, de acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira. A maioria é da agricultura familiar.