Trilhas em vulcões ativos, como o Monte Rinjani, na Indonésia, onde a brasileira Juliana Marins foi encontrada morta nesta terça-feira (24), são difíceis e podem trazer riscos à saúde, principalmente por conta do clima frio, rajadas de vento e a possibilidade de inalação de fumaça com gases vulcânicos.
O Monte Rinjani tem 3.726 metros de altitude e é considerado uma das trilhas mais desafiadoras da Indonésia. Em março, o governo local recomendou a criação de protocolos de segurança para busca e resgate, diante do aumento de visitantes e incidentes. Nos últimos cinco anos, foram registrados 180 acidentes e nove mortes — contando com Juliana.
“O aumento no número de turistas que visitam o Parque Nacional do Monte Rinjani traz benefícios para o bem-estar da comunidade local, mas também gera impactos negativos ao ecossistema da área. Além desses impactos ambientais, a atividade turística na região acarreta riscos de acidentes, que podem resultar em ferimentos leves, graves ou até em morte”, afirma Procedimento Operacional Padrão (POP), documento criado pelo governo indonésio.
Além disso, segundo o texto, os tipos de acidentes mais comuns incluem quedas, torções, doenças e ataques de animais.
Outro risco está associado à possibilidade de erupção do vulcão. O Rinjani, por exemplo, está ativo. Em 2016, cerca de 400 turistas tiveram que ser retirados às pressas da trilha devido ao processo de erupção.
Os riscos à saúde também estão relacionados a inalação de gases tóxicos, como o dióxido de carbono e dióxido de enxofre, conforme explica Sandra Guimarães, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“A inalação de gases vulcânicos ricos em dióxido de carbono podem causar acúmulo deste gás na corrente sanguínea, causando sintomas como fadiga, cefaleia, confusão mental e parada respiratória”, afirma. “Já o dióxido de enxofre causa fenômenos irritantes da via aérea”, completa.
O sulfeto de hidrogênio também é uma das substâncias tóxicas encontradas em gases vulcânicos. Segundo a especialista, ele pode causar irritações nas vias aéreas e edema (inchaço) pulmonar.
Além disso, de acordo com Ubiratan de Paula Santos, pneumologista do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), outras substâncias presentes nas cinzas e gases emitidos por vulcões podem conter metais, sílica, asbesto e material particulado fino e ultrafino.
“A depender da concentração do produto no ar e o tempo que a pessoa fica exposta inalando, pode provocar doenças agudas ou deixas sequelas crônicas, como asma, bronquite crônica e mesmo após décadas da exposição, casos de mesotelioma [câncer de pleura] e de silicose [fibrose pulmonar] podem ocorrer”, afirma Ubiratan.
Já a exposição a material particulado aumenta o risco de arritmia e infarto do miocárdio, de acordo com o especialista. “Estudos também revelam um risco maior de infecções respiratórias, pela redução das defesas pulmonares. Mas isso depende da quantidade inalada e do tipo de composição do material inalado”, reforça.