A catástrofe climática no Rio Grande do Sul levou a Agroconsult a cortar em 2 milhões de toneladas a projeção da safra de soja brasileira em 2023/24, para 154,5 milhões de toneladas. Se confirmado, o número representará queda de 4,9% em relação às 162,4 milhões de toneladas colhidas no ciclo anterior, de acordo com a consultoria.
André Pessoa, CEO da empresa, disse que havia 3,5 milhões de toneladas de soja a serem colhidas antes das chuvas e inundações que afetaram o Estado no início do mês. Desse volume, 2 milhões de toneladas foram “perdidas” e 1,5 milhão de toneladas estão sendo colhidas com “muita dificuldade”, como o excesso de umidade.
“É muito provável que se caminhe para 2,5 milhões de toneladas de redução na colheita no Rio Grande do Sul”, disse Pessoa em apresentação no Encontro Nacional dos Produtores de Sementes de Soja (Enssoja), realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), em Foz do Iguaçu (PR).
O volume das perdas também pode aumentar por conta da soja já colhida e que estava estocada em armazéns e silos atingidos pelas águas. Entre 800 mil e 1 milhão de toneladas podem ter sido perdidos nessas estruturas, mostrou Pessoa.
“A consequência sobre a atividade produtiva ainda vai demorar alguns meses para ser avaliada e, com certeza, alguns anos para recuperar o que foi perdido”, disse o CEO da Agroconsult. Segundo ele, já é possível cravar que a área plantada de soja na próxima safra (2024/25) será menor no Estado.
“O Rio Grande do Sul não plantará a mesma área que plantou este ano, vai plantar menos. Teve produtores que perderam a camada superficial do solo, perderam infraestrutura da propriedade, tiveram perdas econômicas”, analisou.
Pessoa projeta a primeira redução de área plantada de soja no Brasil desde 2006 para a safra 2024/25. Sem dimensionar o impacto no Rio Grande do Sul, a expectativa é de diminuição de 200 mil hectares, para 46,2 milhões de hectares, queda de 0,4%. Ele mencionou, no entanto, que a retração pode chegar a 500 mil hectares.
Mesmo assim, a previsão é de crescimento de 11% na produção nacional de soja em 2024/25, para 171,3 milhões de toneladas, com produtividade de 61,8 sacas por hectare.
A redução de área deve ocorrer em lavouras consideradas “marginais”, de regiões mais arenosas, com custo mais alto ou maior dificuldade logística, e com produção próxima de 50 sacas por hectare, disse ele.
Indústria
As chuvas no Rio Grande do Sul também devem impactar a capacidade nacional de esmagamento de soja em 2024, já que o Estado é relevante na produção de biodiesel. A projeção atual é de processamento de 55,3 milhões de toneladas da oleaginosa, mas o número pode não ser alcançado depois das inundações. Há risco de reduzir de 1 milhão a 1,2 milhão de toneladas que seriam esmagadas nas usinas. O dado, porém, ainda não está fechado e levará tempo para avaliação mais precisa, disse Pessoa.
“Certamente teremos comprometimento dessa indústria por lá, mas nada que nos tire do número próximo de 54 a 55 milhões de toneladas de esmagamento”, disse o CEO da Agroconsult no Enssoja.
A projeção da consultoria para as exportações de soja no Brasil está em 95,1 milhões de toneladas, queda de 7,5% em relação a 2023, quando as vendas externas chegaram a 102,8 milhões de toneladas.
Resultado da safra
Mesmo após a ocorrência das enchentes, o Rio Grande do Sul ainda terá uma safra maior em 2023/24, dada a recuperação da produtividade nesta temporada em relação ao rendimento afetado pela seca no ano passado. O aumento estimado pela Agroconsult é de 41,6%, para 52,2 sacas de 60 quilos por hectare.
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