A Cooperativa de Desenvolvimento Rural do Vale do Rio Piracuruca (Codervap), no Piauí, vende mel no mercado interno. Mas seus associados podem sofrer as consequências da sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos. Eles temem uma queda nos preços do produto, como consequência da redução nas exportações.
“Alguns dos nossos compradores já disseram que o preço vai baixar, devido à tarifa. O mel é commodity, a gente comercializa por um preço baseado no dólar e nas vendas externas”, explica Ana Mendes, diretora da cooperativa.
Os Estados Unidos são o principal mercado para o mel brasileiro. Cálculos da Abemel, que representa os exportadores, indicam que 53% da produção nacional tem como destino o mercado americano. O tarifaço, que entra em vigor no dia 1º de agosto, inviabiliza praticamente as vendas, avalia a entidade.
Nas condições atuais, não há alternativas para um redirecionamento de cargas no curto prazo. O segundo maior importador do mel brasileiro é a Alemanha, para onde vão apenas 8% da produção. Com produto retido no porto ou voltando ao ponto de origem, a oferta interna aumenta, pressionando os preços para o produtor.
“É um efeito cascata. Vai ter uma quantidade muito maior de mel dentro do país e que vai afetar significativamente. Como vai ter muito mel, o valor vai baixar, consequentemente”, diz Ana.
A Codervap trabalha com apicultura desde 1996. São 230 associados, todos pequenos produtores e agricultores familiares, que recebem apoio técnico para o manejo adequado na cadeia produtiva. Neste ano, a produção chegou a 200 toneladas de mel. O produto representa 90% da receita da cooperativa.
“Ainda não sentimos esse efeito imediato da tarifa, porque nossos contratos já estavam fechados. Recebemos e já enviamos. Mas, se ainda tivéssemos cargas para vender, certamente receberíamos preços mais baixos”, afirma a diretora.
A cooperativa também comercializa a chamada apitoxina, o veneno de abelha, bastante utilizado na indústria cosmética. Parte dessa produção é exportada. A venda de mel para o mercado externo ainda está nos planos.
A Bee Mel também não exporta. Mas o cenário imposto pelo tarifaço levou a uma revisão das contas. A beneficiadora de mel foi fundada pelo apicultor Wener Bastos em 1991. Hoje, ele não está mais na parte industrial e cuida apenas das colmeias. Quem está à frente da agroindústria é sua filha, Teresa Raquel.
Ela também tem uma produção própria, mas, como o volume é pequeno para as necessidades da empresa, precisa comprar de outros apicultores. Entre eles, o próprio pai. Teresa, qualificada como sommelier de mel, diz que o quilo, hoje, custa mais de R$ 17, mas já chegou a pagar R$ 12. Ela trabalha com um preço médio de compra em torno dos R$ 15 o quilo, e espera que os valores baixem.
“A esperança é de que baixe o preço do mel para indústria. Do meu ponto de vista, que compro, e, mesmo do meu pai, eu compro a preços de mercado, o aumento da oferta ajuda”, afirma, acrescentando que, neste momento, a disponibilidade é baixa em sua região e há dificuldades em adquirir a matéria-prima.
Na outra ponta, diz a apicultora, a baixa da matéria-prima acaba limitando a margem de repasse de custos para os preços finais dos produtos. Ela avalia, no entanto, que, dificilmente haverá mudanças significativas no valor de prateleira do mel.
“O que tiver de variação para baixo (no custo), as indústrias devem aproveitar para equilibrar as contas. Os principais produtores aqui da região tiveram quebra de safra e a indústria ainda segue pressionada pela baixa oferta de mel”, analisa.