A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos Estados Unidos, gerou uma incerteza imediata no mercado de café, que tem nos americanos um dos seus principais clientes. Mas ainda é cedo para medir um impacto nos preços da commodity, avalia o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.
“É um exercício especulativo, nada factual. O Brasil está em plena colheita e os fundamentos para formação de preço ainda são incertos”, avalia. “Esperava-se que os preços recuassem de imediato, pois a tarifação poderia inibir o consumo. Entretanto, o que se viu foi uma alta acentuada na bolsa de Nova York“, acrescenta.
Na primeira sessão depois do anúncio do tarifaço, o preço subiu. No dia seguinte, também. Nesta semana, a segunda-feira foi de alta, seguida de uma baixa na terça. E a sessão da quarta-feira (16/7) foi novamente de valorização. O contrato com vencimento em setembro subiu 3,73% e fechou a US$ 3,0845 por libra-peso. Dezembro de 2025 subiu 3,67% e ajustou para US$ 3,0090 a libra.
A guerra tarifária ajuda a explica este movimento, dizem, analistas de mercado, à medida que pode inibir novas compras de café do Brasil pelos Estados Unidos, e fomentar discussões sobre quem vai arcar com os custos adicionais da carga que está a caminho do mercado americano.
Nesta semana, o café para setembro acumula alta de 7,66% em Nova York, informa o Valor Data. No acumulado do mês, a valorização da commodity é de 2,78%. “Isso mostra que o elemento especulativo se nutre com notícias e com expectativas, já que a vigência da tarifa será a partir de agosto”, explica Matos, do Cecafé.
O que provoca a volatilidade?
Entre os fatores que tornam o cenário instável, estão os baixos estoques da safra passada que, segundo analistas, estariam nos menores níveis desde a década de 1990. Os países consumidores também estão com reservas em patamares baixos, o que eleva a preocupação da indústria global.
Além disso, as previsões climáticas para as próximas safras ainda são incertas. “Prever a safra 2026 ainda é cedo. O Brasil está em pleno inverno. Embora se tenha ótimos modelos matemáticos para previsão climática, nada se pode afirmar em termos de riscos de geada ou mesmo frio intenso. Tampouco se pode prever como e quando será a ‘volta’ das chuvas”, diz Matos.
O presidente do Cecafé também chama a atenção para o papel de fatores externos, como instabilidades geopolíticas e econômicas, que podem influenciar os preços do café no mercado internacional. “Assim, percebe-se que os elementos que formam os fundamentos de mercado estão indicando uma certa fragilidade para se afirmar previsões baixistas de preço”, pontua.
O comportamento do mercado, acrescenta o executivo, dependerá exatamente dessa relação entre o impacto efetivo das tarifas de importação e os fundamentos de oferta, demanda e estoque do principal fornecedor do mercado americano: o Brasil.