Em silêncio, sob o risco de ir preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode se favorecer com a medida cautelar, avaliam estrategistas e integrantes do PL (Partido Liberal)
O ex-presidente, que está usando tornozeleira eletrônica, está proibido não apenas de usar as redes sociais, mas também de dar declarações à imprensa porque as falas não podem ser reproduzidas nas plataformas digitais, conforme decisão de Moraes.
Na avaliação do grupo de Bolsonaro, as cautelares podem impulsionar o discurso de que há uma perseguição da Corte às vésperas do julgamento da tentativa de golpe de Estado. A previsão é que o chamado “núcleo crucial” seja julgado em setembro.
Aliados observam ainda que Bolsonaro, sem dar declarações, evita se complicar no processo judicial com ataques à Corte e também de dar explicações sobre as medidas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil, como a sobretaxa de 50% a produtos nacionais.
Na quarta-feira (23), a imagem de Bolsonaro saindo do PL e dizendo aos jornalistas que não poderia dar declarações foi considerada positiva pelos aliados.
Na avaliação de um importante quadro do PL, a cena reverbera mais do que uma declaração de Bolsonaro, que costuma falar muito e se repetir nas mesmas críticas de que é vítima de um ativismo judicial.
“Para quem sempre fala muito, o silêncio pode ser mais eloquente”, disse um integrante do PL.
Moraes ainda não se manifestou após a defesa do ex-presidente pedir, na terça-feira (22), para que o ministro esclareça os limites da decisão que proibiu o ex-presidente de utilizar redes sociais, seja de forma direta ou por meio de terceiros.
De acordo com os advogados, Bolsonaro “jamais considerou” que estava proibido de conceder entrevistas, já que as medidas cautelares impostas não proibiam expressamente declarações à imprensa. Até a manifestação de Moraes, a defesa diz que o ex-presidente não fará declarações.
A resposta da defesa ocorreu após Moraes, na noite de segunda-feira (21), dar o prazo de 24 horas para que os representantes de Bolsonaro explicassem um possível descumprimento da medida cautelar que o proíbe de utilizar redes sociais, direta ou indiretamente.
Horas antes, o ex-presidente, na Câmara dos Deputados e cercado por parlamentares aliados, jornalistas e cinegrafistas, mostrou sua tornozeleira eletrônica.
“Não roubei os cofres públicos, não desviei recurso público, não matei ninguém, não trafiquei ninguém. Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação em nosso país. Uma pessoa inocente. Covardia o que estão fazendo com um ex-presidente da República. Nós vamos enfrentar a tudo e a todos. O que vale para mim é a lei de Deus”, disse Bolsonaro na ocasião.
No mesmo dia, Moraes já havia publicado um despacho reforçando que a proibição de uso das redes sociais imposta a Bolsonaro também vale para transmissões, repostagens ou divulgação de entrevistas em perfis de terceiros. Segundo o ministro, o ex-presidente não pode usar essas plataformas de forma indireta para burlar a medida, sob risco de prisão.
O documento foi publicado após o ex-presidente cancelar uma entrevista ao portal Metrópoles, que seria transmitida no YouTube e no X.
Ao pedir a manifestação da defesa sobre a declaração de Bolsonaro, Moraes afirmou que a fala teve a intenção de ser divulgada nas redes sociais. O ministro já considera que, por causa disso, houve descumprimento de medida cautelar. O episódio pode resultar na decretação de prisão preventiva do ex-presidente.