Pacientes que usam medicamentos com a semaglutida (o princípio ativo do Ozempic e Wegovy) devem tomar cuidados redobrados com o jejum antes de um procedimento com anestesia ou sedação. Esses remédios retardam o esvaziamento do estômago e, por isso, podem aumentar o risco de aspiração pulmonar durante o procedimento
Esse risco foi reforçado por um estudo feito na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e publicado no Jama Surgery em março deste ano. Inicialmente indicados para o tratamento do diabetes, esses medicamentos ganharam fama pelo efeito na perda de peso e vêm se tornando cada vez mais populares
O jejum pré-cirúrgico serve para garantir que o paciente tenha o mínimo volume residual gástrico. Isso porque, sob anestesia ou sedação, a pessoa perde os reflexos de defesa, aumentando o risco de regurgitação desse conteúdo e aspiração, levando a graves danos pulmonares.
No estudo, dos 124 pacientes acompanhados, mais da metade (56%) dos que usavam esses remédios apresentaram resíduos após o jejum-padrão, que costuma ser de oito horas para a dieta geral e de duas horas para os líquidos sem resíduos, como água e chá.
Drogas como a semaglutida e outras como a liraglutida e a dulaglutida simulam o efeito do GLP-1 (Glucagon-Like Peptide-1), um hormônio produzido pelo intestino, e liberado na presença de glicose, que sinaliza ao cérebro que a pessoa está alimentada, diminuindo o apetite e a velocidade do esvaziamento gástrico e aumentando a saciedade.
Elas agem diretamente no estômago e no trato gastrointestinal, reduzindo a motilidade, e no pâncreas, estimulando a liberação de insulina e diminuindo a liberação de glucagon, o que auxilia no controle da hiperglicemia.
“Inicialmente o impacto desses medicamentos no esvaziamento gástrico não foi tão valorizado, mas, após episódios em que foram detectados resíduos mesmo muito tempo após a última dose, as sociedades vêm mudando as recomendações”, diz o médico anestesiologista Wilson Nogueira Soares Junior, do Hospital Israelita Albert Einstein.