O general Mario Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL), admitiu, nesta quinta-feira (24), durante interrogatório no STF (Supremo Tribunal Federal) ter idealizado o chamado plano “Punhal Verde e Amarelo”.
O documento previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
Fernandes disse que o plano não passava de um “pensamento” seu e um “estudo de situação” que foi digitalizado. Ele nega ter apresentado o documento a qualquer pessoa.
“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilar de dados, um estudo de situação meu, uma análise de riscos que eu fiz e por costume próprio resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém e nem compartilhado com ninguém”, disse.
Fernandes também confirmou ter imprimido o documento. Segundo ele, a impressão foi apenas para que pudesse ler melhor e “não forçar a vista”. Ele alega ter rasgado o plano logo em seguida.
Quem é Mario Fernandes
General da reserva, Mario Fernandes iniciou sua carreira militar em 1983, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
Em 2016, Mario Fernandes foi promovido a general de brigada. Entre 1028 e 2020, chefiou o Comando de Operações Especiais, os chamados “kids pretos”.
Em 2020, foi para a reserva e assumiu o cargo de secretário-executivo do então ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), no governo de Jair Bolsonaro. Ele chegou a comandar a pasta interinamente, quando, durante um reunião no Palácio do Planalto, em julho de 2022, discutiu estratégias golpistas para viabilizar a permanência de Bolsonaro no governo.
O militar também foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro.
O militar era atuante no governo Bolsonaro. Segundo relatório da PF (Política Federal), ele seria um dos nomes “mais radicais” envolvido na tentativa de golpe de Estado no país e era influente nos acampamentos após a derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022.
Ele chegou a ser preso em novembro de 2024, suspeito de ter elaborado um plano para matar autoridades.
Plano Punhal Verde e Amarelo
A Polícia Federal deflagrou uma operação que revelou o plano para matar autoridades em novembro de 2024. Segundo as investigações, o grupo — formado em sua maioria por militares das FE (Forças Especiais) do Exército, os chamados “kids pretos” —, tinha como alvos Lula, Alckmin e Moraes.
Os assassinatos foram planejados para ocorrer em 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação do petista no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A ideia era envenenar os alvos. Além disso, o plano previa instituir o “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que deveria ser ativado em 16 de dezembro de 2022.
Também foi prevista a utilização de um arsenal de guerra, com pistolas, fuzis, metralhadora e um lança-granada. A operação revelou ainda que Moraes era monitorado constantemente.
De acordo com as investigações da PF (Polícia Federal), três cópias do documento foram impressas no Palácio do Planalto pelo general. Quarenta minutos depois, Fernandes teria dado entrada no Palácio do Alvorada, residência oficial da presidência da República. Lá estavam Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) questionou Fernandes sobre a impressão ter sido feita em três cópias e uma reimpressão em outra data, com um mês de distância da primeira.
O general disse que não se lembra de ter imprimido mais de uma cópia do plano e disse acreditar ter sido uma “configuração da impressora”. Sobre a impressão em outra data, ele afirmou que a fez por ter tido uma “nova ideia” e alterado o documento.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, Jair Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” do plano.
Segundo a delação de Mauro Cid, Mario Fernandes era um dos generais que mais incentivava que as Forças Armadas agissem para tentar uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, para impedir a posse de Lula.
(*Publicado por Mayara da Paz, com informações de Davi Vittorazzi)