Tido como um dos obstáculos para o combate à fome, o prejuízo à economia global em decorrência da adulteração de alimentos chegam a US$ 49 bilhões anualmente. Em participação no II Fórum Esfera Internacional, o jurista Pierpaolo Bottini defendeu que, além de pensar em soluções focadas em segurança pública, atores governamentais e o setor privado se articulem pelo fortalecimento das políticas de segurança alimentar.
“Quando a gente fala em segurança alimentar, a gente não está falando só de chegar o alimento às pessoas, mas chegar um alimento de qualidade. Então você tem a adulteração do alimento, o contrabando de alimentos, extorsão do agricultor na ponta, manipulação de preço, cartel. Tudo isso afeta qualquer política institucional de segurança pública”, disse durante painel que contou com a participação da cofundadora do Pacto Contra a Fome, Geyze Diniz, e da embaixadora Carla Barroso, representante do Brasil nas agências da Organização das Nações Unidas sediadas em Roma.
O crime organizado drena o dinheiro que poderia ser utilizado para fomentar o crédito agrícola, por exemplo. Ao citar estudo realizado pela Esfera Brasil em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Bottini lembrou que o custo das organizações criminosas para o Brasil atualmente está estimado em 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB), e os gastos de entes federativos e União com a segurança pública chegam à casa dos R$ 130 bilhões.
“Assim como todas as outras atividades humanas, toda política pública, inclusive de segurança alimentar, é afetada pelo crime organizado de maneira direta e de maneira indireta”, afirmou.
Insegurança alimentar afeta 700 milhões de pessoas
Nos últimos anos, a deflagração de guerras em diferentes continentes, a pandemia de Covid-19 e os eventos climáticos extremos têm corroborado para a persistência das desigualdades. Estudos estimam que há 700 milhões de pessoas em insegurança alimentar em todo o mundo, sendo que a maior parte delas está concentrada nos países da África. De acordo com Carla Barroso, a principal dificuldade ao enfrentamento dessa grande questão está na conscientização dos tomadores de decisão, que deveriam atuar de maneira coordenada.
“O governo precisa desenhar políticas públicas, colocar recursos em programas de transferência de renda, e o setor privado também. A fome está se deslocando do campo para a cidade, e o setor privado precisa olhar com carinho a possibilidade de investir no campo, para criar empregos”, sugeriu.