Uma pesquisa feita por cientistas brasileiros detectou a prevalência de HPV em áreas remotas da Amazônia. Segundo o estudo, 25,4% das mulheres ribeirinhas tiveram o vírus detectado.
A pesquisa foi feita por equipe da Inside Diagnósticos e agora, em sua terceira versão, foi apresentado no Eurogin, congresso na Suécia sobre prevenção e diagnóstico das infecções por HPV e cânceres associados. O congresso começou na última quarta-feira (13) e vai até este sábado (16).
O estudo foi realizado com 123 mulheres em comunidades ribeirinhas nos rios Negro e Madeira, no estado do Amazonas. O objetivo era identificar a prevalência de infecções sexualmente transmissíveis nessas comunidades, como o HPV. O grupo de mulheres analisado tinha a faixa etária de 14 a 78 anos.
HPV é a sigla para o Papilomavírus humano. O vírus pode permanecer no corpo por tempo indeterminado e sem manifestar quaisquer sinais. O termo engloba mais de 100 tipos de vírus capazes de infectar tanto a pele quanto a mucosa oral, genital e anal de mulheres e homens.
O vírus provoca uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) e pode desencadear o surgimento de verrugas na região genital. Entre as mulheres, a maioria das infecções pelos subtipos do HPV tem resolução espontânea, com combate do próprio organismo, em um período de até 24 meses. Em casos mais graves, no entanto, o HPV pode levar ao desenvolvimento de câncer no colo de útero, por exemplo.
Entre as infectadas, seis delas (19,4%) estavam por tipos de baixo risco de câncer – enquanto a maioria (19, representando 61,3% das contaminadas) estavam com o vírus de alto risco.
Já 35,5% das mulheres analisadas estavam infectadas com dois ou mais tipos de HPV. A prevalência de outras ISTs foi de 72,4% das analisadas.
O estudo sobre as ISTs nas comunidades ribeirinhas foi originalmente feito entre 2013 e 2014. No entanto, após novas análises, os pesquisadores conseguiram obter novas conclusões sobre o estudo que foi originalmente publicado em 2018.
O médico Marco Antonio Zonta, que comandou o grupo de pesquisa, falou à CNN e explicou que a taxa de incidência do câncer de colo de útero chega a ser maior nos estados do Amazonas e Roraima, onde comunidades ribeirinhas vivem em áreas remotas e com difícil acesso a unidades de saúde. Algumas necessitam de transporte fluvial, que demanda mais tempo, para conseguirem atendimento.
Segundo Zonta, o estudo possui o papel da “genotipagem para HPV como política de rastreamento para populações em locais de baixa abrangência pela política pública de saúde”. Com a genotipagem, segundo médico, permite a detecção mais rápida e com maior sensibilidade do câncer de colo do útero do que o exame papanicolau.
“No papinocalu, temos a sensibilidade [de detecção do vírus] de 45 a 50%, enquanto a genotipagem tem mais de 99%”, falou.
Além da facilidade de detecção com exame de maior sensibilidade, a pesquisa também mostrou que é necessário pensar em soluções que atendam essas comunidades. “A sugestão de uma coleta facilitada, como a auto coleta, é uma importante ferramenta para se obter amostras no atendimento de populações isoladas e de difícil acesso aos programas de saúde”, explicou Zonta.
“Esses dados são fundamentais para a elaboração de políticas públicas e para a formulação de melhores práticas de abordagem sobre como rastrear, como prevenir e como fornecer cuidados adequados para que estas mulheres possam ter qualidade de vida e evitar que o HPV evolua para o câncer”, disse o médico.
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