Por muito tempo, assuntos relacionados à saúde reprodutiva feminina e à menopausa foram tabus na conversa entre as próprias mulheres. Agora, no entanto, tem crescido o número de personalidades e mulheres conhecidas do grande público, como a atriz Fernanda Lima e a jornalista Sandra Annenberg, contando suas próprias experiências nessa fase da vida. Um desses temas negligenciados é a perimenopausa, fase de transição que antecede a menopausa – pode iniciar, em média, entre quatro e oito anos antes – e ainda é pouco debatida, apesar de seu grande impacto na qualidade de vida das mulheres.
A perimenopausa pode durar anos e traz consigo diversas mudanças hormonais que afetam o ciclo menstrual, a saúde mental, o metabolismo e a sexualidade. De acordo com Manuela Lago Miranda, ginecologista e obstetra da Clínica Fares, “essa é uma fase natural da vida da mulher, mas muitas vezes pouco compreendida. No entanto, com informação adequada e acompanhamento profissional, é possível minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida”.
Sinais e sintomas da perimenopausa
Um dos primeiros sinais da perimenopausa é a irregularidade menstrual. “Os ciclos menstruais tornam-se mais curtos, depois mais espaçados, até cessarem completamente. Além disso, sintomas como insônia, ansiedade, oscilações de humor e fogachos são frequentes”, explica a especialista.
As alterações hormonais têm um impacto profundo na saúde mental. Um estudo recente da Universidade de Cardiff, feito em 2024, mostrou que mulheres na perimenopausa são mais de duas vezes mais propensas a desenvolver transtornos depressivos maiores e episódios de mania. Além disso, um dos sintomas comuns nesta fase é o nevoeiro cerebral ou névoa mental, que inclui dificuldade de concentração, esquecimentos, lapsos de memória, episódios de confusão mental e lentidão de raciocínio. “Isso reforça a necessidade de um olhar atento para a saúde mental nessa fase e ao estilo de vida”, alerta Manuela.
Saúde cardiovascular e osteoporose
A perimenopausa também está associada a um aumento no risco de doenças cardiovasculares. “Com a queda dos níveis de estrogênio, há uma piora no perfil lipídico e um aumento na gordura abdominal, fatores que contribuem para o risco de hipertensão, infarto e AVC”, diz a ginecologista. O hipoestrogenismo, condição na qual os níveis de estrogênio no corpo estão abaixo do normal, também leva à perda de massa óssea, favorecendo a osteoporose.
Estudos epidemiológicos indicam que a idade de entrada na menopausa também influencia a mortalidade feminina. Mulheres que entram na menopausa antes dos 46,6 anos têm um risco 16% maior de mortalidade por diversas causas. “Esses achados destacam a importância do monitoramento da saúde nessa fase e de intervenções preventivas“, pontua Manuela.
Terapia hormonal e alternativas
A terapia de reposição hormonal (TRH) é o tratamento padrão para aliviar os sintomas da perimenopausa, sendo recomendada para mulheres sintomáticas com menos de 60 anos ou dentro dos dez primeiros anos da pós-menopausa. “A TRH deve ser feita com a menor dose eficaz e pelo tempo necessário. No entanto, existem contraindicações, como histórico de câncer de mama, doenças cardiovasculares e tromboembolismo”, esclarece a especialista.
Outras estratégias para aliviar os sintomas incluem mudanças no estilo de vida. “Uma alimentação equilibrada, rica em proteínas e leguminosas, como a soja, pode ajudar. Atividade física regular, hidratação adequada e cuidados com a saúde mental também são fundamentais”, recomenda Manuela.
Saúde sexual na perimenopausa
A diminuição do estrogênio também impacta a saúde sexual. “Com a redução da lubrificação vaginal e afinamento da mucosa, pode haver dor na relação sexual, o que leva, muitas vezes, a uma queda na libido e até mesmo aversão ao ato sexual. Converse com sua ginecologista sobre esses sintomas”, explica a médica. O tratamento pode incluir hidratantes vaginais, lubrificantes e, em alguns casos, terapia hormonal local.
A perimenopausa é um período de transição que exige informação e acompanhamento adequado para minimizar seus impactos. “Cada mulher vivencia essa fase de forma única. O mais importante é buscar apoio profissional e entender as opções disponíveis para um envelhecimento saudável”, diz a especialista.