“O Palmeiras é um inferno”, lembro de dizer a um amigo no Beira-Rio, na semana passada, enquanto o Inter dava com o nariz na porta ao tentar furar a defesa adversária – Giay anulava o lado esquerdo do ataque colorado, Gustavo Gómez cortava tudo no miolo da defesa, os meias de marcação não deixavam Alan Patrick respirar.
A partida terminou 1 a 0 para os visitantes. Foi a quinta da atual série de sete vitórias consecutivas do Palmeiras – que rende ao time paulista a liderança isolada do Brasileirão e a melhor campanha geral da Libertadores, a única com 100% de aproveitamento. E que nos permite concluir, meio perplexos: Abel Ferreira conseguiu de novo.
Em quase cinco anos de Palmeiras, Abel viveu alguns momentos que exigiram remodelação. E ele sempre deu um jeito: fazendo alguma mudança tática, apelando para o motivacional ou mexendo na cara do time – investindo nos jovens, por exemplo. Mas foi neste começo de 2025, com as dificuldades para se classificar na primeira fase do Paulistão e com a derrota para o Corinthians na final, que o processo se tornou mais sensível.
A saída de emblemas como Dudu, Zé Rafael e Rony e a queda de rendimento de referências da equipe evidenciaram um fim de ciclo. Não costuma ser fácil fazer essa transição, ainda mais em elencos vencedores – esse talvez seja o elemento mais notável do Palmeiras destes últimos anos: a capacidade de manter em alta competitividade um grupo extremamente vencedor. Veja o caso do Botafogo este ano…
Seria compreensível, portanto, que o Palmeiras atravessasse um longo inverno até encontrar um time competitivo, à altura dos anteriores. Mas bastou um punhado de jogos para o clube avisar novamente aos concorrentes: quem quiser ser campeão terá que superá-lo.
Richard Ríos se tornou um dos melhores jogadores do país nesta temporada, Felipe Anderson cresceu muito de produção, Facundo Torres vem acelerando sua adaptação – e ainda há Vitor Roque e Paulinho, ótimos reforços, em condições de fortalecer o time quando estiverem totalmente encaixados (no caso de Vitor Roque) ou recuperados (no caso de Paulinho). O mais importante, porém, é que o Palmeiras voltou a ser um time organizado, confiável, como mostrou a vitória de 3 a 2 sobre o Bolívar, nesta quinta-feira, em La Paz.
Mesmo sem jogadores como Richard Ríos, Vitor Roque, Raphael Veiga e Murilo, mesmo com Estêvão passando mal por causa da altitude, mesmo com Felipe Anderson na reserva, mesmo com Paulinho sem entrar, o Palmeiras venceu aquele que tende a ser seu compromisso mais complicado na fase de grupos da Libertadores. Se também bater o Cerro Porteño, fora de casa, no dia 7 de maio, estará classificado com duas rodadas de antecedência.
E há pontos a melhorar. A sequência de vitórias passou pelo goleiro Weverton, decisivo contra Inter e Fortaleza. Nos dois últimos jogos, o Palmeiras foi mais agredido do que em jogos anteriores (contra Corinthians e Inter, por exemplo). Isso mostra que é um time ainda em processo de ajustes – e suscetível a oscilações, mas também há evoluções.