O montante de, aproximadamente, R$ 750 milhões que seria utilizado pela Minerva para a compra de três unidades da Marfrig – atual MBRF – no Uruguai terá outro destino após o negócio ter sido barrado pela Comisión de Promoción y Defensa de la Competencia (Coprodec), autoridade antitruste uruguaia.
“Vamos usar o recurso para fazer redução de dívida, ajudar no processo de desalavancagem da companhia”, disse Edison Ticle, vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Minerva, nesta terça-feira (30/9) durante o Minerva Day.
A expectativa do executivo é fechar o ano de 2025 com a relação entre dívida líquida e Ebitda (alavancagem) abaixo de 2,8 vezes. Com o processo de redução de endividamento, e o retorno da geração de caixa positivo, a Minerva pretende voltar a pagar dividendos em 2026.
A compra das unidades uruguaias de San José, Salto e Colônia fazia parte de uma transação em que a Minerva comprou 13 plantas da Marfrig localizadas no Brasil, Argentina e Chile. As plantas já adquiridas estão sob o controle da Minerva desde outubro de 2024, quando esta etapa da transação foi concluída.
Depois de ter barrado algumas vezes o negócio no Uruguai, a Coprodec deu mais uma negativa na semana passada.
O CEO da Minerva, Fernando Queiroz, disse que é possível recorrer sobre a decisão, mas a companhia ainda está avaliando se tomará alguma medida.
Sinergias
As 13 unidades da Minerva que foram adquiridas da Marfrig – atual MBRF – no Brasil, Argentina e Chile alcançaram 100% das sinergias esperadas no final de setembro, um trimestre mais cedo do que o esperado, afirmou Ticle. As novas plantas passaram a ser operadas pela compradora em outubro do ano passado.
“Isso vai nos permitir rodar o quarto trimestre com utilização de capacidade acima de 75%”, ressaltou o executivo durante o Minerva Day.
Ticle calcula que as unidades estão entregando entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões em lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) por trimestre.
Isso significa que o Ebitda anual das novas unidades pode se aproximar de R$ 1,5 bilhão por ano, mesmo sem as três plantas localizadas no Uruguai que estavam previstas no contrato de compra, mas tiveram o negócio barrado pela autoridade antitruste do país Comisión de Promoción y Defensa de la Competencia (Coprodec).
“Os números das performances das plantas adquiridas são sensivelmente superiores ao que anunciamos na aquisição. Provavelmente, no ano que vem a gente vai revisitar estes números”, disse.
Diante deste desempenho operacional e com um cenário internacional de demanda firme pela carne produzida na América do Sul, sem dar um novo guidance, Ticle acredita que o Ebitda de 2025 pode ficar ao redor de R$ 4,75 bilhões a 5,2 bilhões para a companhia como um todo.
A receita líquida do ano tende a alcançar um montante entre R$ 50 bilhões e R$ 58 bilhões. “A gente deve ficar muito perto do topo do range”, afirmou.
A geração de fluxo de caixa livre caminha para terminar 2025 positiva entre R$ 500 milhões e R$ 1,5 bilhão e, nesta conjuntura, a alavancagem – relação entre dívida líquida e Ebitda – está estimada entre 2,5 vezes e 2,8 vezes.
“A gente fecha o ano certamente com uma alavancagem abaixo de 2,8 vezes”, enfatizou Ticle. Segundo ele, um fator que contribuiu para este processo foi o aumento de capital realizado pela companhia, que pode chegar a R$ 3 bilhões até 2028.
Tecnologia
A otimização de processos com o uso de inteligência artificial nas operações da Minerva tem potencial para gerar uma captura de valor da ordem de R$ 288 milhões por ano.
Atualmente, a companhia estima que tem conseguido R$ 40 milhões em ganhos, mas é possível avançar, disse o vice-presidente de tecnologia, Roberto Stern.
As otimizações estão, por exemplo, nas áreas de logística, arbitragem na compra de gado, orçamento e precificação.
Crescimento orgânico
Enquanto dá sequência a um processo de redução de endividamento, que limita novas aquisições, a Minerva pretende crescer 10% organicamente em 2026. “O crescimento vai ser orgânico, que vem das eficiências das operações”, disse Ticle
O executivo destacou que a empresa também pretende obter cerca de R$ 2 bilhões com a alienação de imóveis considerados não essenciais para a Minerva. Um dos ativos que estão em análise para possível alienação é uma planta de biodiesel localizada em Palmeiras de Goiás (GO).
Estes recursos da alienação de imóveis deve ajudar na meta de diminuição de endividamento da companhia.
O CEO da empresa, Fernando Queiroz, acrescentou que onde há espaço para a Minerva expandir no médio e longo prazo é na categoria de produtos de valor agregado, lembrando que a companhia é a que mais tem atuação em áreas de gado no bioma dos pampas, onde há raças europeias.
Mercado
As perspectivas para curto e longo prazo vêm em um cenário de demanda firme por carne no mercado internacional e a percepção de que houve uma mudança no patamar de preços do produto.
O sócio da consultoria MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, e conselheiro da Minerva estima que o mundo deve produzir de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas a menos de carne bovina no ano que vem, o que sustenta a demanda dos compradores externos.
Em preço, Ticle ressalta que os valores do produto estão, em média, 15% maiores em dólar, em relação ao ano passado.
“Os preços da carne subiram e o consumo não caiu. Provavelmente, isso é um sinal de que há uma mudança no patamar de preços no mundo”, acrescentou o diretor de Relações Institucionais da Minerva, João Sampaio.
Na visão dos executivos, o consumo de proteína animal cresce nos países emergentes por melhoria nos níveis de renda. Já nos países desenvolvidos, a ampliação na demanda vem por mudanças nos hábitos e dietas, que cada vez mais favorecem as proteínas em detrimento dos carboidratos.