A produção global de rações, que tem no setor avícola a maior parte da oferta e da demanda, resistiu ao surto de gripe aviária no mundo e cresceu 1,2% em 2024, para 1,396 bilhão de toneladas. O levantamento faz parte do relatório anual da Alltech, que reuniu dados de 142 países e 28.230 fábricas de alimentação animal.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de ração, atrás apenas da China e Estados Unidos, e fabricou 86,6 milhões de toneladas em 2024. O volume cresceu 2,4% no comparativo anual. Até então, o país não havia registrado nenhum caso de gripe aviária em granja comercial, visto que o primeiro foco da doença em unidade industrial foi confirmado neste mês.
“Esse crescimento – alcançado apesar dos desafios que incluíram a gripe aviária altamente patogênica (IAAP), flutuações climáticas e incerteza econômica – ressalta a resiliência e adaptabilidade da indústria agropecuária internacional”, afirmou a companhia de nutrição animal e biotecnologia.
A oferta global de ração para aves atingiu 595,79 milhões de toneladas no ano passado, aumento de 1,7% em relação a 2023. Com isso, o setor representou 42,7% da produção mundial de rações.
A Alltech ressaltou que todas as regiões do mundo sentiram o impacto da gripe aviária H5N1 em 2024. A doença, altamente mortal para as aves, fez com que plantéis fossem dizimados pelo vírus ou pela necessidade de abate sanitário para evitar a disseminação. Além disso, houve interrupções nas cadeias de suprimentos e subsequente volatilidade dos preços nos mercados de proteína animal.
Ainda assim, a demanda se mostrou fortalecida e tende a seguir em ascensão. No relatório, a companhia estima que a produção global de aves deve aumentar em 2025, “com analistas prevendo um crescimento de 2,5 a 3%”.
“As aves continuam em alta demanda e outras carnes, como a carne bovina, estão em menor oferta, portanto, o incentivo para expandir a produção de aves é forte. O desafio da indústria será encontrar maneiras de manter esse crescimento enquanto gerencia as interrupções causadas por surtos de doenças”, disse a Alltech.
Outros setores
Segunda maior categoria no mercado de alimentação animal, o segmento de rações para suínos produziu 369,29 milhões de toneladas em 2024, leve queda de 0,6%. O setor representou 26,4% da oferta mundial.
O crescimento nos segmentos de carne suína da Europa, América Latina e América do Norte foi compensado por desacelerações na África, Oriente Médio, Ásia-Pacífico e Oceania.
“Essas tendências foram parcialmente ditadas pela forma como os produtores de cada região continuaram a se recuperar dos surtos de PSA [peste suína africana], com a demanda de exportação permitindo que a Europa e a América Latina recuperassem o terreno perdido”, explicou a empresa.
A produção de ração para bovinos de leite aumentou 3,2%, para 165,5 milhões de toneladas, devido à robusta demanda do consumidor, preços favoráveis do leite e uma mudança para práticas agropecuárias mais intensivas, apesar de adversidades como doenças e condições climáticas voláteis.
“Espera-se que a modernização e intensificação da produção e a maior produção de leite promovam novos aumentos, mas os preços mais baixos na China podem limitar os ganhos globais em geral”, alertou.
A quantidade de ração para bovinos de corte aumentou 1,8%, para 134,1 milhões de toneladas. América do Norte, América Latina, África, Europa e Oceania registraram ganhos graças ao aumento da demanda por exportações de carne bovina devido à oferta restrita em outras partes do mundo.
Já a produção global de rações para o setor de aquicultura diminuiu 1,1%, em 2024, para 52,97 milhões de toneladas, continuando uma tendência de queda para o setor que surgiu pela primeira vez em 2023. “Olhando para o futuro, a aquicultura está posicionada para se fortalecer lentamente, mas essa recuperação provavelmente permanecerá desigual entre as regiões”, pontuou a Alltech.
Na contramão, com o maior aumento percentual, a fabricação de ração para animais de estimação, os “pets”, aumentou 4,5% para 37,69 milhões de toneladas, impulsionada por tendências contínuas de dietas “premium” na alimentação, crescimento na adoção de animais e inovação nos produtos do setor. Para a Alltech, este continua sendo um dos setores de crescimento mais rápido do mundo.
A alimentação no setor de equinos aumentou 2,3%, para 9,63 milhões de toneladas, também pela melhoria nas dietas oferecidas aos animais e pelo crescente interesse em cuidados focados na nutrição entre os proprietários de cavalos. No entanto, o setor enfrenta populações em declínio e altos custos de ração.
Desempenho regional
Na avaliação geográfica, a região classificada como Ásia-Pacífico produziu 533,1 milhões de toneladas de rações, leve queda de 0,8%, embora ainda seja a maior produtora de alimentação animal no mundo.
“Essa diminuição deveu-se em grande parte às dificuldades na China, bem como aos extremos climáticos contínuos, excesso de oferta e alternativas de ração baratas que dificultaram a expansão”, afirmou o relatório.
A segunda maior região produtora de ração foi a América do Norte, com 290,7 milhões de toneladas, ligeira alta de 0,6%, com avanços nas indústrias de carne bovina, aves e suínos, que compensaram os efeitos negativos do surto da gripe aviária nos Estados Unidos.
A Europa produziu 267,8 milhões de toneladas, avanço de 2,7%, com recuperação da ração para suínos, bovinos e aquicultura.
A quarta maior região produtora é a América Latina, com 198,4 milhões de toneladas e um aumento de 3,6%, impulsionado pela forte demanda por aves, suínos e bovinos, bem como mercados de exportação favoráveis.