O nível de transparência dos frigoríficos que atuam na Amazônia vem crescendo, com mais empresas dispostas a realizar auditorias independentes e tornar esses dados públicos. Entretanto, o levantamento anual Radar Verde, obtido pelo Valor, mostra que ainda é muito baixo o nível de monitoramento de fornecedores indiretos — que fazem a cria e recria do gado —, o que deixa as companhias do setor expostas à compra de animais provenientes de áreas desmatadas.
“Nenhum frigorífico comprovou controle sobre as fazendas fornecedoras indiretas. Esse é o gargalo que mantém a pecuária brasileira exposta ao desmatamento ilegal e à pressão internacional”, disse Paulo Barreto, pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e um dos coordenadores do Radar Verde.
Segundo o especialista, o relatório avaliou 151 grupos frigoríficos que tinham, 194 plantas na Amazônia Legal até 2024. O Imazon compilou os dados, disponíveis em informações públicas das empresas citadas, do Ministério da Agricultura, das agências estaduais de defesa agropecuária e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a análise, esses grupos frigoríficos respondem por 96% dos abates realizados na Amazônia.
O número de frigoríficos da região que publicaram os resultados de auditorias independentes sobre suas operações de compra de gado mais do que triplicou em comparação com o relatório anterior. Em 2024, foram 13 unidades, e neste ano, 41.
Os 13 grupos que haviam publicado auditorias independentes no ano passado representavam 37% da capacidade de abate de gado na Amazônia. Já os 41 frigoríficos da lista de 2025 representam 57% da capacidade de abate na região.
“A principal mudança entre um ano e outro tem a ver com transparência. Mais frigoríficos que não divulgavam dados de suas auditorias passaram a divulgar”, afirmou Barreto.
No monitoramento de fornecedores diretos — aqueles que vendem o boi gordo ao frigorífico —, o estudo mostra que 12 empresas têm alto nível de controle sobre as fazendas. A MBRF lidera esse ranking, seguida pela Minerva. Frigol e JBS também aparecem com eficácia nesse quesito.
Entre os fornecedores indiretos, o Radar Verde informa que apenas seis empresas têm algum grau de controle, mas todas com nível ainda muito baixo. De acordo com o relatório, “a JBS continuou com o maior grau de exposição ao risco de desmatamento” porque é a que tem o maior número de plantas frigoríficas da região.
Em comentário sobre o Radar Verde, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse que o relatório “tem o louvável objetivo de auxiliar consumidores em suas decisões de compra”, indicando níveis de controle socioambiental na cadeia de fornecimento de varejistas e indústrias. “No entanto, acreditamos que há oportunidades de melhoria na metodologia, que hoje pode mais confundir do que ajudar o consumidor”, avaliou.
A entidade ressaltou que as indústrias que atuam na Amazônia são signatárias de Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal e que o sistema oficial de rastreabilidade controla o trânsito de lotes de animais por meio das Guias de Trânsito Animal (GTAs). Abiec disse ainda que apoia todas as soluções de rastreabilidade na cadeia.