Quase dois terços dos catadores e catadoras autônomos de materiais recicláveis vivem em moradias precárias — de favor, em ocupações ou em casas emprestadas —, enquanto 44% estão em situação de rua. Além disso, 43% dos profissionais da categoria não têm acesso a nenhum programa social.
É o que aponta o levantamento realizado pela Associação Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (Ancat), em parceria com a Fundação Banco do Brasil.
A pesquisa reuniu informações de 2.140 trabalhadores e trabalhadoras em seis capitais brasileiras — Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Recife.
Os catadores, que desempenham papel fundamental na garantia do retorno de resíduos à cadeia produtiva, também sofrem de insegurança alimentar. De acordo com a Ancat, uma em cada cinco pessoas havia feito apenas uma ou nenhuma refeição no dia anterior à entrevista para a pesquisa, e cerca de um terço depende de doações, feiras livres ou abrigos para se alimentar.
Entre os dados coletados, o baixo nível de escolaridade entre os catadores chama atenção: apenas 11% concluíram o ensino médio, enquanto 56% não completaram o ensino fundamental. Quase metade (46%) já relatou ter sofrido violência, assédio ou discriminação durante o exercício da profissão.
O perfil majoritário é composto por homens (70%) e pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas (88%). A maioria vive exclusivamente da atividade de catação (80%), trabalha de forma individual (78%) e realiza o trabalho a pé, transportando os materiais em sacos (54%).
Grande parte dos entrevistados coleta até 50 quilos de materiais por dia, e 88% é entregue para ferros-velhos.
Segundo o presidente da Ancat, Roberto Rocha, o levantamento mostra que a categoria precisa de apoio e de políticas públicas. “São trabalhadores e trabalhadoras fundamentais na economia circular, contribuindo para o retorno de resíduos à cadeia produtiva e reduzindo a pressão sobre os recursos naturais”, declarou.