O principal índice da bolsa de valores brasileira, o Ibovespa, tem o pior desempenho do mercado global até o momento, em comparação com as 26 principais bolsas do globo.
O indicador paulista encerrou o pregão desta sexta-feira (14) com 119.662,38 pontos, uma leve alta de 0,08% ante o pregão anterior.
O desempenho, contudo, não compensa o recuo de 0,91% que o índice teve na semana, e muito menos a queda de 10,82% registrada desde o começo do ano, de acordo com levantamento feito pela TradeMap para a CNN.
Não só a bolsa brasileira, mas a moeda também apresenta fraqueza no ano.
A dólar teve uma forte valorização ante o real, que apresenta o terceiro pior desempenho cambial no mundo, de acordo com o levantamento. A pesquisa considerou 20 moedas globais.
Com a alta da divisa norte-americana, a fuga de capital acaba gerando um efeito que retroalimenta a queda da bolsa, segundo avaliação de Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike
“[O investidor] não tem apenas uma desvalorização conforme o índice e ações que ele têm investido, mas ele tem uma desvalorização cambial também”, explica Eyng.
O Ibovespa apresentou resultados recorde no ano passado, chegando ao maior patamar da história no penúltimo pregão do ano e encerrando 2023 acima dos 134 mil pontos.
“Tivemos um rali atípico em 2023, as ações tinham subido bastante e já deixavam um 2024 desafiante pelo próprio rali. Era importante o investidor ter cautela”, indica o CEO da Multiplike.
Além da dificuldade em manter o desempenho extraordinário, fatores como o cenário exterior desfavorável vem pesando sobre o Brasil, com destaque para a manutenção dos juros altos nos Estados Unidos e a fraqueza da economia chinesa.
Mas o principal aos olhos dos investidores e quem mais tem aparecido como motivo para as quedas diárias seguidas do Ibovespa é o momento das contas públicas.
Exterior
Para Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, o impacto é dividido em dois momentos.
“No primeiro trimestre, houve um pessimismo bastante ligado ao macro. Houve de uma forma geral uma manutenção da inflação que mudou por completo as expectativas de queda de juros”, aponta Saadia.
No começo do ano, indicadores de inflação do exterior se mantinham elevados – mesmo após o início de um controle no final de 2023 -, o que afastou as apostas por cortes de juros.
“No final de 2023, havia expectativas de cortes nas taxas de juros americanas, o que não se concretizou, impactando negativamente os mercados emergentes, como o Brasil, redirecionando fluxos de capital para ativos considerados mais seguros”, explica André Colares, CEO da Smart House Investments.
O baque veio principalmente dos Estados Unidos, onde a economia e o mercado de trabalho aquecidos seguem mantendo o Federal Reserve (Fed) – o banco central do país – em alerta para o potencial retorno da inflação.
“Isso acabou fazendo com que tívessemos fluxos estrangeiros negativos em praticamente todos os meses [do ano], bem diferente do ano passado, que a gente tinha um fluxo gringo bem positivo”, pontua Saadia.
Na última quarta-feira (12), o Fed manteve suas taxas de juros inalteradas no maior patamar em 23 anos – de 5,25% a 5,50% – pela 7ª vez seguida.
Porém, nesta semana, também foram divulgados dados de inflação ao consumidor e ao produtor que surpreenderam o mercado, reavivando as apostas por cortes de juros ainda este ano.
“Os dados de inflação, CPI e PPI, fizeram com que a mensagem mais dura do Fed tenha envelhecido rapidamente. A melhora na inflação vai abrindo espaço para o Fed cortar juros no último trimestre. Provavelmente dois ou três cortes, em vez da projeção atual”, afirma Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.
Atualmente, o banco central norte-americano prevê apenas um corte nas suas taxas em 2024.
Cenário doméstico
O segundo impacto veio de dentro.
Em abril, o governo federal alterou a meta fiscal de 2025 de um superávit para déficit zero. A redução da meta não foi bem recebida pelo mercado, que viu a imagem de responsabilidade fiscal do governo arranhada.
E buscando alternativas para manter a arrecadação em alta, o Executivo editou uma Medida Provisória que visa fechar brechas na legislação sobre crédito presumido PIS/Cofins não ressarcível e na compensação PIS/Cofins limitada.
Segundo o Ministério da Fazenda, a proposta daria a margem de R$ 29,2 bilhões aos cofres públicos para compensar a manutenção da desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia.
A medida, contudo, foi mal recebida pelo governo e gerou forte crítica de parlamentares e dos setores.
Na terça-feira (11), o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolveu parte da MP.
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