Uma assinatura falsa, um documento forjado e a biometria feita com uma foto tirada sem consentimento.
Aposentados e pensionistas do INSS relataram à CNN uma série de artimanhas de golpistas ligados a bancos e associações para efetivar descontos diretamente na folha de pagamento sem que houvesse qualquer tipo de contrapartida.
A prática ilegal não se limitou a entidades e descontos associativos, mas também abrangeu bancos e empréstimos consignados vinculados às aposentadorias, realizados sem solicitação ou consentimento dos beneficiários.
Essa é mais uma estratégia usada para garantir a multiplicação dos recursos nos últimos anos.
A CNN já havia revelado que os sindicatos e associações vinculados ao INSS estabeleceram parcerias com call centers para induzir a aceitação dos descontos nos benefícios de aposentados.
Eles usaram “ligações relâmpago” para convencer os idosos a consentirem com a adesão a supostos clubes de benefícios.
Carteira de identidade falsa
O médico aposentado Alexandre Losekan, que mora em Porto Alegre (RS), conta que há cerca de dois anos começou a receber “uma enxurrada de ligações” de atendentes oferecendo empréstimos para cobrir o empréstimo consignado que ele tinha.
Foi aí que ele descobriu que estava sendo vítima de um golpe.
“Me dei conta que haviam sido feitos três ou quatro empréstimos consignados de forma fraudulenta sobre a minha conta de aposentadoria”, conta.
“Imediatamente entrei em contato com a minha advogada e ajuizamos algumas ações contra o banco que me paga a aposentadoria. Paralelamente descobrimos que em São Paulo foi aberto uma conta no meu nome, sem a minha assinatura, ou melhor, com assinatura falsa, usando o carteira de identidade falsa”, detalha ele à CNN.
O processo de Losekan é contra o Banco do Brasil que, contatado pela CNN, disse que “as manifestações são realizadas no âmbito do processo judicial” e “em respeito ao sigilo bancário, o BB não divulga detalhes sobre o caso em questão”.
Foto sem consentimento
No caso do aposentado Carlos Roberto dos Reis, de 68, morador do Rio de Janeiro (RJ), a fraude foi na biometria.
“Recebi uma ligação de uma pessoa oferecendo um cartão que dava descontos em remédios. Ela se apresentou como sendo do INSS. Eu recusei.”
“Ela confirmou meu endereço inteiro e meu CPF. Mais tarde eu estava lavando o carro na garagem e ela chegou, se identificou… Eu disse que eu não queria [o cartão] e ela disse que [recusando] eu iria prejudicar ela”, explica o aposentado.
Nesta hora, aconteceu algo inusitado.
“Ela estava com o celular no peito, preso no vestido, na roupa, e eu estava lavando o carro descabelado, sem camisa… Eu desconfiei que ela tirou uma foto minha. Liguei pra um amigo meu da polícia e ele falou: ‘Tu abre o olho que isso é golpe’”, relata o aposentado que mora no bairro de Olaria, zona Norte do Rio.
“Ela veio numa quarta-feira. Quando foi na sexta-feira eu entrei no aplicativo do INSS e tinha dois empréstimos consignados. Quando fui processar, eu vi que eles juntaram essa foto que tiraram minha no processo e outra foto que tirei no banco quando fui justamente para cancelar o empréstimo, para provar que eu não queria um empréstimo que eu nunca pedi”, completa ele.
As informações de Carlos constam no processo judicial contra a Agibank. O banco inclusive adicionou ao processo a foto sem camisa, como sendo prova de que ele se submeteu à biometria para conseguir o desconto.
Em nota à CNN, o banco afirmou que “acompanha com atenção a disseminação de golpes e fraudes em todo o país, com diferentes abordagens” e “que exploram a vulnerabilidade da população, em especial de aposentados e pensionistas do INSS”.
Eles ainda sustentam que atuam “de forma proativa para mitigar riscos e reforçar nossos protocolos de segurança, com uso intensivo de validação biométrica, inteligência artificial, modelos preditivos e conferência documental em todo o ciclo de crédito”.
Descontos fraudulentos de entidades
Em dois casos distintos, a CNN reuniu elementos e dados de Silvia Rita Botelho e Francisco Takeo Kikuti. Os dois reclamam que tiveram descontos indevidos da Abenprev (Associação de Benefícios e Previdência).
No caso de Silvia, o juiz chegou a sugerir a realização de um exame grafotécnico.
Constatou-se, no entanto, que não havia sequer um contrato para essa tomada de valores.
A juíza Maryra Callegari Gomes de Almeida mandou devolver o dinheiro com juros e mora, além do pagamento de R$ 3 mil.
A CNN entrou em contato com a advogada depois de uma outra decisão da juíza Renata Carolina Nicodemos Andrade. Não tivemos resposta.
“O dano moral está configurado”, afirmou a juíza em uma das decisões desses casos.
Tanto o Sindnapi, qua o a Abenprev foram contatos mas não responderam até o fechamento desta reportagem.