A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, declarou nesta terça-feira (29), que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde março para articulação política com o governo norte-americano, é um “traíra” e “não tem o direito de continuar deputado pelo Brasil”.
“Esse é um traíra, comete crime de lesa-pátria. Não tem o direito de continuar deputado pelo Brasil. Com certeza, eu espero que o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados tomem medidas para que esse traíra não possa representar mais nenhuma instituição brasileira”, afirmou a ministra em coletiva após uma agenda no Itamaraty nesta manhã.
Há poucos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pediu que deputados governistas tomem “alguma atitude” contra Eduardo Bolsonaro na Câmara.
“Ô Boulos, ô Tatto, vocês na Câmara tem que tomar alguma atitude. Esse cara é deputado, ele se afastou e foi lá para os Estados Unidos ficar pedindo: ‘Ô Trump, salva o meu pai'”, disse Lula durante um evento em Osasco, São Paulo.
Para o presidente, o parlamentar está “traindo a nação” e o “povo brasileiro”.
“Estão pedindo pro presidente dos Estados Unidos aumentar a taxa das coisas que nós vendemos pra eles pra libertar o pai, ou seja, trocando o Brasil, pelo pai. Isso é pior que Silvério dos Reis. Esse cara tá traindo a nação, ele tá traindo o povo brasileiro”, disse ao comparar Eduardo com Joaquim Silvério dos Reis, principal delator da Inconfidência Mineira.
Licença do mandato
Ao anunciar que ficaria nos Estados Unidos dia 18 de março, Eduardo Bolsonaro pediu uma licença parlamentar de 120 dias por “interesses pessoais” e outros dois dias para “tratamento de saúde”. O período de afastamento terminou dia 20 de julho e, a partir de agora, o deputado passa a tomar faltas não justificadas caso não retorne ao Brasil.
Para não perder o mandato, o parlamentar não pode faltar mais de um terço das sessões do plenário da Câmara.
Nas redes sociais, Eduardo diz que não renunciará ao mandato, ao mesmo tempo que não sinaliza uma possível volta ao Brasil.
“Eu não vou fazer nenhum tipo de renúncia. Então, se eu quiser, eu consigo levar o meu mandato pelo menos aí até os próximos três meses”, declarou.
Tarifaço
Ás vésperas da confirmação das tarifas de 50% impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o presidente Lula, ministros e governistas, atribuem a culpa a Eduardo e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Isso é o filho do coisa e o coisa que tá pedindo pra fazer”, disse o petista referindo-se a Eduardo e Jair.
“Os caras faziam campanha embrulhados na bandeira nacional, ‘Brasil acima de tudo, acima de tudo’ e agora ele vai para a desfaçatez ‘Brasil acima de tudo’, mas primeiro os Estados Unidos. É uma falta de vergonha, falta de caráter, de patriotismo”, prosseguiu o presidente Lula durante evento no Rio de Janeiro na última segunda-feira (28).
As tarifas foram anunciadas por Trump em uma carta na qual criticava o processo penal enfrentado por Jair Bolsonaro na Suprema Corte brasileira. No documento, o norte-americano pede que o Brasil pare com a “caça às bruxas” que diz sofrer o ex-presidente.
“Eu espero que o presidente dos Estados Unidos reflita e resolva fazer o que, num mundo civilizado a gente faz: tem divergência? Coloca na mesa e vamos resolver”, disse Lula.
Nesta manhã, Gleisi afirmou que o governo está disposto a negociar com os EUA, mas que ainda não receberam resposta oficial. Segundo ela, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já conversaram com o governo americano.
“O governo está aberto a fazer negociações e está insistindo nisso do ponto de vista comercial e nós queremos negociar. O que não está em negociação é a soberania e a democracia brasileira, isso o presidente Lula sempre deixou claro, essa parte não entra na mesa de negociação”, destacou a ministra.